Osíris Silva
Respondendo a um questionário da coluna Follow-up, porta-voz do Cieam, o presidente da entidade, Wilson Périco foi enfático: “Quer dizer que, por conta da ZFM, o Brasil não poderia fazer a reforma? Ora, com o amparo constitucional, ou não, a ZFM nunca foi impeditiva para que seja feito o que precisa ser feito no país. Exemplos já tivemos no passado: a abertura do mercado, no governo Collor, que se deu depois da Constituição de 1988; Lei de Informática, idem. O que é preocupante, por outro lado, é que não vemos nenhuma proposta do nosso Estado para contribuir com a reforma tributária!! Só fazemos choramingar, reclamar, como se fôssemos coitadinhos”.
É assustador o silêncio mantido pelo governo do Estado. Aparentemente corroborando “a cara de paisagem” dos anteriores no que pertine a respostas que a classe empresarial e a sociedade aguardam ante a necessidade de ações propositivas voltadas ao futuro de nossa economia, projetos concretos e exequíveis para a Zona Franca de Manaus na perspectiva 2073. Simplesmente não os temos. É fácil acusar o Paulo Guedes. O difícil é concentrar “minds and hearts” no pensar o Amazonas, no formular alternativas à matriz econômica firmada no Polo Industrial de Manaus, em que 93% do faturamento do PIM assenta-se em seis cadeias produtivas, enquanto o interior do Estado, que concentra 50% de sua população continua esperando o trem da história passar.
O administrador de empresas Francisco Cruz, em seu artigo “Paulo Guedes. De carrasco à vacina imunizadora”, de 20 de abril, faz contundente alerta sobre o nosso quadro conjuntural e político, ao afirmar: “Afinal a ZFM estava imune. Foi parar na Constituição e para completar estava assegurada até 2073. Preocupar-se só mesmo com eventuais ataques. Adaptá-la à nova realidade mundial, era preocupação de poucos.Essa postura, sempre foi reforçada pelos decantados “slogans”: “a ZFM foi o único modelo de desenvolvimento que deu certo, a ZFM é responsável por preservar 98% da floresta”. Não adiantaram os alertas. Os apelos pelas alternativas econômicas disponíveis não vingaram”.
Cruz, em mais um de seus incisivos artigos vai além: “Valho-me aqui da sapiência do economista e empresário Jaime Benchimol. Em fevereiro, ao ser confrontado com o quadro atual, concluiu: ‘Ou mudamos a postura ou seremos condenados a fracassar entre cinco e dez anos’. Avalia que a ZFM encolhe 50% nesse espaço de tempo. Temos que encontrar alternativas que nos recusamos procurar ao longo de 50 anos”. Fatos incontestáveis evidenciam a inação governamental. Destaco: a) a indiferença do governo ante os estudos da FGV e do Ipea sobre os gargalos da ZFM e a necessidade de sua reestruturação, b) gap tecnológico após a extinção da Secretaria de Ciências, Tecnologia e Inovação vem se aprofundando em relação a instituições nacionais e internacionais, o que é muito grave, dependente que é a economia do Amazonas, via ZFM, de C,T&I; c) eventos especializados tratando de assuntos científicos de alta relevância, como dilema entre conservação e produção agrícola na Amazônia, realizam-se em Manaus e Brasil afora com baixíssima repercussão junto a escalões governamentais de mando.
Múltiplos avanços tecnológicos ampliam-se worldwide dos quais a ZFM se afasta, dificultando ainda mais nossas alternativas de avanço. O governo tem de se convencer de que fora dessa perspectiva, a ZFM, como modelo de desenvolvimento manter-se-á frustrante em relação às motivações geopolíticas que determinaram sua criação em 1967. Enquanto isso, leques de oportunidade fluem instigantes diante de nosso horizonte; inócuos, porque não aproveitados adequadamente, desvanecem como espumas do mar na areia da praia. Bioeconomia, nanotecnologia, indústria 4.0 mantêm-se promissores campos de investimentos. Viabilizá-los, contudo, demanda ações de pesquisa e desenvolvimento assumidas por governo, universidades e centros de pesquisa. De cujo ideal ainda estamos muito distantes.