Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, o físico, professor emérito da Unicamp e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia e do Conselho Editorial da Folha, Rogério Cerqueira Leite informa logo no primeiro parágrafo que, no curso da última grande crise econômica mundial, “o presidente Barack Obama declarou, e repetiu recentemente, que a saída para os EUA seria por meio de inovação, pesquisa, ciência e tecnologia. O Reino Unido optou pela mesma solução, não reduzindo investimentos em pesquisas”.
Na mesma trilha, Japão e a Coreia do Sul fortaleceram apoios a esse avançado segmento, intensificando investimentos em ciência, tecnologia e inovação. A China, acentua Leite, “com a redução de suas taxas de crescimento e perspectivas pouco otimistas para o futuro próximo, acaba de anunciar que aumentará em 40% o investimento em ciência fundamental e 35% em ciência aplicada”. Idênticas políticas púbicas predominam sobre ações governamentais e privadas de países cujas economias crescem impulsionadas por fortes inversões em P,D&I, somados os Tigres Asiáticos. Brasil e ZFM fora.
Países avançados economicamente chegaram ao estágio de excelência em que se encontram por entenderem, precipuamente, ser este o caminho natural, pois, segundo o artigo em referência, “uma das mais importantes razões da perda de mercados, seja no setor agropecuário, seja no industrial, e mesmo na maioria dos setores de serviços, é a falta de competitividade, que só pode ser revertida com pesquisa em ciência e tecnologia”.
Certamente, buscar incessantemente “inovação é hoje uma consequência direta das atividades de pesquisa em ciência pura e aplicada”. Pesquisa, obrigatoriamente, exige demanda pesados investimentos em instalações e na formação de cientistas de alto nível. Na contramão do bom senso e da tendência predominante no mundo moderno, salienta o físico brasileiro, o governo federal “cortou 26% do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para 2016”. Dada a falência da política econômica, o governo acaba de decretar novos cortes, elevando o total a 38%.
O Ministério do Planejamento pretende “ampliar as reduções orçamentárias do setor da ordem de 18%. Tudo somado, de acordo com cálculos apresentados no artigo, “teremos uma redução de mais de 50% nas atividades de pesquisa no Brasil. Contra tudo o que a história nos ensina, o ministério, que deveria pensar em mecanismos para a retomada do crescimento, torna impossível a sobrevivência nacional do sistema de ciência e tecnologia e, como consequência, compromete seriamente a competitividade da indústria nacional”.
Como se não bastasse essa absurda cegueira medievalesca, afirma Cerqueira Leite, “o Congresso Nacional ainda consegue cortar cerca de 30% do restante dos orçamentos das organizações sociais do Ministério da Ciência, a mais bem-sucedida fórmula organizacional para a pesquisa”. Enquanto os Estados Unidos, “reconhecendo a enorme importância que terão em futuro imediato, se já não a têm agora, a nanotecnologia e a nanociência para a competitividade de sua indústria, assumiu um programa neste segmento específico da pesquisa que custará US$ 2,5 bilhões em cinco anos”.
Essas e outras observações demonstram claramente o quanto o setor é menosprezado pelo governo e mesmo o empresariado. Aparentemente, pouco “percebem que ciência e tecnologia tornaram-se imprescindíveis instrumentos de competição em um mercado globalizado. A realidade nacional é expressa no fato de que o Ministério da Ciência continua sendo tratado como quarto de despejo. Como se ciência e tecnologia fossem apenas fachadas, sem importância econômica para o país”. Quando será que vamos nos livrar desse obscurantismo? A depender do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, nunca. O Conselhão é composto por 47 empresários, 28 sindicalistas, dois religiosos e alguns representantes diversos, dentre os quais apenas dois efetivamente oriundos da comunidade de pesquisa.