São diversificadas e graves as amarras que impedem o deslanchar da Zona Franca de Manaus (ZFM) rumo a novo paradigma industrial puxado por economias avançadas e os Tigres Asiáticos padrão Índia, Coreia do Sul, Hong Kong, Cingapura, Malásia, Taiwan e, surgindo no retrovisor, Vietnam, Irlanda e Polônia. O grande diferencial daquelas pujantes economias para a ZFM é uma só: tecnologia, resultante de investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Mas, a esse respeito não falo nenhuma novidade. Todos, acredito, conhecem de cor e salteado a realidade induzida pela repetição das mesmas conversas enfadonhas e monótonas, as mesmas ladainhas e cantilenas fastidiosas, passados quase 50 anos.
O maior problema da Zona Franca, prática e objetivamente falando reside na ausência de um projeto de desenvolvimento. Pressuposto válido para todo o conjunto geoeconômico e social da Amazônia. No centro dessa complexidade, sobressai-se como principal fator, o déficit de investimentos em P,D&I. Não apenas na acepção clássica inerente à modernização de laboratórios existentes e implantação de novos, mas também na formação de engenheiros especialistas e profissionais de suporte. Mais ainda, na promoção da indispensável governança do sistema de ensino e pesquisa tendo em vista conciliar os esforços voltados à modernização industrial, logística comercial e de transporte. Efetivamente, a base de sustentação sobre a qual se deve, ou se devia centrar esforços governamentais sintonizados com as classes empresariais, o centro propulsor do processo. Aqui, como disse Camões, é onde a terra se acaba e o mar começa.
Sinteticamente, uma realidade incontrastável, irrefutável. Para escapar da armadilha da baixa performance e do distanciamento dos centros líderes do desenvolvimento tecnológico mundial, urge produzir “matrizes de criação científica” para poder encontrar o ponto de inflexão da curva (o momento da virada), e promover, junto com o empresariado, ampla campanha de vacinação contra a mediocridade, a arrogância, o corporativismo cartorial, a resistência à inovação e à mudança. Ou seja, mudar o quadro negativista e aqui poder reproduzir o impulso que conduziu à deflagração da Revolução Industrial inglesa do século XIX; que levou Ada Byron, filha do grande poeta, considerada a primeira programadora de computadores do mundo, a apresentar, em 1833, à corte real britânica sua “máquina diferencial de Babbage” capaz de “resolver equações e polinômios, analisar variáveis que um general podia enfrentar antes de ir para a batalha”; que produziu o Silicon Valley, nos EUA; que tornou Estados Unidos, Alemanha e Japão gigantes econômicos no pós II Guerra Mundial, e a miserável e faminta China, não obstante o fechamento de seu regime de governo, a se tornar, desde os anos 1970, a segunda economia mundial no século XXI.
Muitos de nossos professores e pesquisadores, mesmo que em número aquém das necessidades da região, têm boa formação, porém não dispõem de recursos para pesquisa nem projetos de inovação de produto e processo seja no campo industrial, como, e, principalmente, no agroindustrial, setor no qual o Amazonas e a ZFM mal se arrastam, não obstante os bilhões de reais aplicados no setor. Simples soma aritmética de dados do Centro das Indústrias do Amazonas (CIEAM) revela que apenas nos últimos dez anos cerca de R$ 15 bilhões foram recolhidos pelas indústrias de informática para aplicação em pesquisa e desenvolvimento. Outro tanto, conforme determinação da Lei Estadual de Incentivos, arrecadados para o financiamento de 100% do orçamento anual, da ordem de R$ 450 milhões, da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), incentivo ao Centro de Educação Tecnológica, a cadeias produtivas no interior, a programas de incentivo ao turismo e à interiorização do desenvolvimento. Ações ficcionais, certamente, exclusive em relação a UEA, dado que o interior do Estado continua tão subdesenvolvido quanto há cem anos.