A decisão tomada de encerrar suas atividades no Polo Industrial de Manaus (PIM) levou em conta “o ambiente recente de mercado e a tendência esperada para os negócios”, explicou a Sony Brasil em comunicado divulgado nesta terça-feira, 15. Visou, por outro lado, “fortalecer a estrutura e a sustentabilidade de seus negócios, para responder às rápidas mudanças no ambiente externo”, completou o comunicado.
A empresa, que opera no Brasil há 48 anos (entre S. Paulo e Curitiba), garantiu que as atividades de produção cessarão em final de março de 2021 e que, em meados deste ano, irá interromper a venda de televisores, câmeras e equipamentos de áudio, entre outros produtos fabricados em Manaus, levando à perda irreversível de 220 postos de trabalho.
A decisão da Sony dá sequência a outras tomadas no passado por importantes grupos multinacionais, que também encerrarem suas atividades em Manaus – Bosch, Philips, Sanyo, Ericsson, Nokia, Telefunken, Xerox, Basf, Philco, Siemens, assim como a Pepsi Cola (concentrados). De fato, ao longo desses mais de meio século grande número de empresas desistiram de manter ou de se instalar na ZFM, mesmo com cerca de 10 mil projetos aprovados pela Suframa e governo do Estado no período.
Para que se tenha uma ideia, em 1990 o PIM gerava mais de 150 mil empregos diretos, hoje, já em declínio e mais recentemente influenciado pela pandemia do Covid-19 o número gira em torno de 85 mil postos de trabalho mantidos no polo industrial. O faturamento, em dólar, despencou 29,64%, base maio, de US$ 26,4 bilhões em 2019 para US$ 7,6 bilhões contabilizados neste exercício.
A saída de empresas multinacionais da ZFM, face à dinâmica dos mercados, é um fenômeno que até pode ser considerado normal, visto que ao aqui se instalarem não transferem a base de tecnologias de processo e produtos ao PIM. Nas décadas de 1970/1980 as fabricantes de TV e rádios japoneses Semp, Sharp, Sanyo e Sony expulsaram do mercado mundial marcas como RCA, Admiral, GE, Vozzo, Grundig, Colorado, Philco e Telefunken. E assim será no futuro próximo. Mercados não param nem esperam.
Por outro lado, lamentavelmente esses grupos não promovem substituição de produtos defasados tecnologicamente por outros de nova geração que motivaram o encerramento local de suas operações industriais. O domínio mundial do mercado de TV por enquanto é da Coreia do Sul, sucessora do Japão, que logo terá a companhia internacional da China. Entretanto, produtos eletrônicos e bens de informática alternativos poderiam estar sendo fabricados no PIM. A Intel instalou uma fábrica de micro processadores (US$ 2 bilhões de investimentos) no Vietnã; por que não em Manaus?
Não há como evitar decisões de natureza intimamente ligadas a interesses dos negócios de cada grupo empresarial, exatamente devido à volatilidade das tecnologias disruptivas em setores de ponta da economia, particularmente eletrônicos e informática. O fenômeno indica, por outro lado, a ingente necessidade de o governo promover a reestruturação do chamado modelo ZFM, concentrado polo industrial, que abriga diminutas cadeias produtivas (sete setores respondem por 93,22% do faturamento do PIM).
Há 30, 20 anos atrás já estava claro que a monocultura industrial não levaria a economia amazonense a porto seguro no longo prazo. Pois bem, o momento chegou. A hora, por conseguinte, é de realizar os investimentos que se fazem necessários à implantação da bioeconomia, a exploração sustentável de recursos da biodiversidade – produção de alimentos, biofármacos, biocomésticos, construção naval, ecoturismo, polo petróleo-gás, serviços ambientais, nanotecnologias, bioengenharia, manejo florestal, mineração, dentre outros.
Não temos outro caminho adiante. Não se trata, evidentemente, de substituir o PIM, como alguns teimosamente insistem, mas de complementá-lo, aerando nossa matriz econômica via diversificação de cadeias produtivas derivadas de produtos oriundos da vasta potencialidade que o bioma amazônico nos oferece sem pedir nada em troca, a não ser que dele cuide bem e o preserve para o bem do Brasil e da humanidade.