Por Osiris Silva:
A Amazônia é extensa e ainda muito pouco povoada – apenas 25 milhões de habitantes e 70% concentrados em núcleos urbanos. No novo Atlas do IBGE é patente o muito pequeno número de estabelecimentos agropecuários na região Norte, contrastando com a grande e desproporcional expansão do desmatamento. São poucas as cadeias produtivas e geralmente incompletas, pois que a agregação de valor se dá fora da região; enfim, não há uma base econômica organizada, mas sim uma destruição dos recursos naturais sem trazer benefícios para a população. Para o futuro é, portanto, lícito reconhecer que a Amazônia já é verde – o que ela necessita é de uma base econômica organizada capaz de assim mantê-la.
Sob esse enfoque, a geógrafa e amazonóloga Bertha Becker empreende conciso diagnóstico do quadro conjuntural social, econômico e geopolítico da região como contributo à academia, centros de pesquisa, governos, gerações contemporâneas e pósteras no documento “A Amazônia já é verde – precisa é de uma base econômica que assim a mantenha”;
O estudo foi elaborado antes de sua morte em 2013 e integra o elenco de estudos especializados do livro “PAN-AMAZÔNIA, Visão Histórica, Perspectivas de Integração e Crescimento”, de 2015, que tem como organizadores, e também autores, o pesquisador Alfredo Kingo Oyama Homma, da Embrapa, e este articulista.
Visões semelhantes, independentes, porém complementares podem ser encontradas no “PAN-AMAZÔNIA” e no caudal de obras escritas sobre a complexidade da região por nomes do calibre de Djalma Batista, Samuel Benchimol, Armando Mendes, Leandro Tocantins, Ozorio Fonseca, Márcio Souza, Auxiliomar Silva Ugarte, Charles Clement, Phililip Fearnside, Niro Higuchi, Geraldo Mendes, Juan Revillas, Carlos Bueno, Adalberto Val, Ima Célia Vieira, dentre outros estudiosos e pesquisadores de primeira grandeza do complexo amazônico.
Particular atenção deve ser conferida igualmente à ação das Forças Armadas na região, sobretudo a partir da década da 1960 com a criação da Sudam e Suframa, implantação de obras seminais nas áreas de infraestrutura, telecomunicações, saneamento, saúde e educação, cujo legado, alguns criticados, promoveram mudanças estruturais de porte.
O Exército Brasileiro, contemporaneamente, por meio do Comando Militar da Amazônia (CMA) avança sua presença na região. Conduz, além de outros, dois projetos infraestruturais de alta relevância: o ProAmazônia, de estímulo à pesquisa, em parceria com Inpa, Ufam e Fundação Osvaldo Cruz, e o Programa Amazônia Conectada, que está levando internet banda larga para 52 municípios do Amazonas por meio de uma rede de sete mil quilômetros de cabos ópticos subfluviais (infovias) ao longo dos rios Madeira, Purus, Juruá, Alto Rio Negro e Alto Solimões.
Como pondera Bertha Becker, “não se trata apenas de estradas, elementos, mas sim, sobretudo, das telecomunicações, porque a rede de telecomunicações na Amazônia permitiu articulações locais/nacionais, bem como locais/globais”. Outra mudança importante diz respeito “à economia, que passou da exclusividade do extrativismo para a industrialização, com a exploração mineral e com a Zona Franca de Manaus, que foi um posto avançado geopolítico colocado pelo Estado na fronteira norte, em pleno ambiente extrativista tradicional.
Há problemas na Zona Franca, mas hoje ela é grande produtora não só de bens de consumo duráveis, como da indústria de duas rodas, de telefonia e mesmo de biotecnologia”.
São questões dessa grandeza que se mantêm desafiantes ao governo do Estado, Suframa, CBA, Sudam, Ufam e Uea, que, no entanto, passam ao largo da visão de políticos. O CBA, por falta de tino e bom senso teve sua gestão transferida ao Inmetro, cujos conhecimentos sobre ZFM e Amazônia não superam os limites do rudimentar. De maneira não muito diferente do fim a que chegou o CTPIM, extinto, o CBA, distanciado dos objetivos que fundamentaram sua criação, corre sério risco de também cerrar suas portas. Ser fechado antes de obter seu CNPJ. Trágico.