ZFM e o boi de piranha

Por Marcelo Ramos

Imagino que quem ler o título desse artigo fica a se perguntar: mas o que Zona Franca tem a ver com boi? E com piranha?

A expressão “boi de piranha” surgiu no da atitude dos criadores de gado que, precisando atravessar sua boiada no rio infestado de piranha, mata um boi velho e doente e atira seu corpo sangrando para atrair as piranhas enquanto ele e a boiada atravessam tranquilamente o rio.

Sob a lógica do fazendeiro, a expressão quer dizer sacrificar um bem menor para preservar um bem maior, ludibriando as piranhas. Sob a lógica da piranha, significa ser enganada e comer carne de boi velho e doente, enquanto a boiada gorda e saudável lhe é desviada.

Na história da Zona Franca de Manaus, a presidente Dilma e os nossos senadores Eduardo e Vanessa são os fazendeiros espertos e nós, o povo, as piranhas bobas e enganadas. Vejamos.

Os fazendeiros não perdem uma oportunidade de anunciar o boi velho e doente para as piranhas, prometendo a prorrogação da Zona Franca de Manaus e a ampliação geográfica do modelo para a Região Metropolitana, enquanto passam o boi gordo e saudável para São Paulo (do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloisio Mercadante-PT) e Minas Gerais (do ministro da Indústria e Comércio, Fernando Pimentel-PT), com medidas como a MP-534 (tablets) e a Portaria Interministerial n. 245 (PPB dos celulares) que transferem setores importantes do PIM para outros Estados.

Ora, retirando as vantagens comparativas e ampliando os mesmos incentivos da ZFM para outras regiões do país, estamos perdendo competitividade, diante do caos logísticos a que estamos submetidos, sem estradas, sem portos, com precariedade no aeroporto e com péssimos serviços de fornecimento de energia e comunicação.

Sem vantagens comparativas, a prorrogação da ZFM e a sua ampliação para a os municípios da Região Metropolitana passa a ser um boi magro e doente, oferecido para nos distrair enquanto passam para outros Estados a boiada gorda e saudável dos empregos e dos novos investimentos.