ZFM, do diagnóstico à ação

Por Osíris Silva:

Face à forte crise que se abate sobre a economia brasileira e a Zona Franca de Manaus (ZFM), causando prejuízos exorbitantes ao Polo Industrial de Manaus (PIM), diversos seminários e mesas redondas vêm sendo realizados com significativa frequência todos os anos, ora na Federação das Indústrias, no INPA, na UFAM, na UEA, na Federação da Agricultura, promovidos por entidades diversas engajadas nesse esforço. A mesa redonda de ontem, 23, promovida pela SUFRAMA foi apenas mais um dos tantos eventos aqui referidos, cujas conclusões provavelmente se encaminharão à vala comum do esquecimento. Registro ao menos dois encontros de expressão promovidos em 2015: um em abril, pelo Conselho Regional de Economia (CORECON) e a FIEAM, e outro em outubro, pela Associação Panamazônia. Ambos discutiram abrangente pauta e chegaram a  razoáveis conclusões encaminhadas às mãos de autoridades governamentais sem que produzissem os efeitos desejados: despertar consciências e gerar políticas públicas adequadas ao novo momento da ZFM.

Há importantes resultados de pesquisa alcançados por cientistas e pesquisadores de universidades e centros de pesquisa da Amazônia e de outras regiões aguardando destinação prática aos quais o futuro da Amazônia, e da ZFM, estão indissoluvelmente correlacionados. Sobressaem-se a exploração de produtos da biodiversidade como fármacos, cosméticos, biotecnológicos, bioengenharia, bioenergia, nanotecnologia, além de serviços ambientais e ecoturismo. Seu aproveitamento econômico demanda, entretanto, altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Necessário se torna, por conseguinte, saltar da fase do diagnóstico a de formulação de soluções sobre problemas já exaustivamente diagnosticados. Simultaneamente, que governo e Suframa acreditem firmemente nessa perspectiva e adotem políticas econômicas arrojadas, capazes de aglutinar as forças de ensino e pesquisa na busca de tecnologias sincronizadas ao novo parâmetro industrial. Isto é, pesquisar e desenvolver produtos para o setor produtivo explorar de acordo com o potencial sócio ambiental da região e os paradigmas tecnológicos internacionais vigentes.

Há diversos estudos demonstrando que, visando equacionar enigmas que por séculos rondam a floresta amazônica, poderiam estar sendo criados, a exemplo do Vale do Silício, nos Estados Unidos, vales da biotecnologia, da bioengenharia, da biogenética, dos serviços ambientais avançados, do ecoturismo, e assim por diante. Segundo a amazonóloga Bertha Becker, a biodiversidade torna-se a menina dos olhos da ciência por codificar a vida abrindo novas fronteiras na biologia. Por sua vez, ciência e tecnologia abrem amplas possibilidades para aproveitamento da biodiversidade em novos patamares atendendo à multiplicação das demandas sociais nos últimos 25 anos.

É o caso dos fármacos, acrescenta Becker, “essenciais à saúde pública, que tem no mercado internacional ampla demanda para seu desenvolvimento desde fitoterápicos, dermocosmética e nutracêutica, que utiliza elementos naturais para gerar bem-estar e hoje vem se expandindo notavelmente com as terapias para a longevidade”. Mais recentemente “a bioenergia vem tendo sua produção estimulada nas áreas alteradas tanto do cerrado como da floresta frente à demanda por energias renováveis. O intenso potencial em água exige sua utilização responsável. A associação da biodiversidade com a indústria eletrônica rumo à nanotecnologia já não é mais coisa do futuro”. É o hoje. Contemporaneamente, afirma Berta Becker, “a economia da floresta, correspondendo ao aproveitamento de todo o espectro dos elementos do ecossistema é possível com um mínimo de destruição”. É bastante amplo e diversificado o leque de oportunidades. Isto não é ficção científica, é ciência aplicada de alta performance e elevada viabilidade econômica. Mesmo correndo o risco de se tornar repetitivo, penso, para o grande salto, faltar apenas aos governantes coragem, determinação e vontade política.