Por Osíris Silva
Abrindo o capítulo XXII de O Príncipe, Maquiavel, autor da obra prima, afirma: “A escolha dos ministros por parte de um príncipe não é coisa de pouca importância: os ministros são bons ou maus, de acordo com a prudência que o príncipe demonstrar”. Pondera: “A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam. Quando estes são eficientes e fiéis, pode-se considerar o príncipe sábio, pois foi capaz de reconhecer a capacidade e manter fidelidade. Mas quando a situação é oposta pode-se sempre fazer dele mau juízo, porque seu primeiro erro terá sido cometido ao escolher os assessores”. O genial florentino despontou como o mais alto funcionário da Segunda Chancelaria de Florença que se consolidava política e economicamente no século XV como a capital do Renascimento, período da história considerado “parteiro dos tempos modernos”. O Príncipe delineia princípios e instrumentos de gestão da máquina pública, ponderando que o vital processo decisório “lastreia-se na informação, mas brota da sabedoria”.
Wilson Lima, há dois, três meses, não passava de mais um apresentador de televisão, locutor de rádio, ambulante, motorista, professor, ou militar de segundo escalão candidato a qualquer posto. Exemplos repetiram-se exponencialmente, resultando, porém, na eleição pelo voto popular de nomes oriundos dessas categorias profissionais a cargos de vereadores, deputados, prefeitos, senadores. Menos governador. Daí a incredulidade de alguns que rejeitavam a possibilidade de admitir que um completo desconhecido pudesse sequer vir a figurar entre nomes que institutos de pesquisa, cheios de si, pudessem considerar como possibilidades, mesmo remotas. Poucos tiveram a clarividência de levar em conta o fator “onda de mudança”, que, quase imperceptivelmente campeava aqui e alhures. De início restrita a algumas longínquas possibilidades, depois abertamente por todo o Brasil, atingindo pequenos e grandes colégios eleitorais.
De qualquer forma, o novo governador amazonense vê-se diante de conjuntura particularmente complexa. Assume o posto logo se deparando com extremas dificuldades resultantes da maior crise até hoje enfrentada pelo Amazonas desde a ruína da economia da borracha em 1912. Cenário ainda mais complexo diante da iminência de o novo governo Federal vir a adotar política econômica voltada à inserção do Brasil na economia mundial, da qual o país está abissalmente afastado, processo que a ZFM é instada a acompanhar. O trágico da situação é que hoje não dispomos de instrumentos capazes de promover esses ajustes, mantendo incólume os incentivos fiscais vigentes.
E agora José?, diria o poeta. Quais as opções capazes de incrementar a competitividade mundial do Brasil? Diante de cenário tão adverso, o bom senso e as responsabilidades delegadas pelo voto popular ao novo chefe do Executivo amazonense recomendam agir maquiavelicamente com prudência, acuidade analítica e discernimento. A ZFM, é fato notório, arrimada no modelo original ditado pelo DL 288/67 não mais se sustenta; inevitável, portanto, seu ajuste às novas plataformas tecnológicas inerentes à Revolução 4.0 em pleno curso mundialmente. Ao governo do Amazonas cabe articular-se sem perda de tempo com Suframa, classes empresariais e instituições como FGV e IPEA para montar projeto de desenvolvimento no horizonte 2073, sustentado por amplo programa de investimento em P,D&I, objetivando: a) a reestruturação administrativa da Suframa, b) a recuperação de sua autonomia financeira e operacional, c) a diversificação da matriz econômica estadual via incorporação da bioeconomia, do ecoturismo e do fortalecimento do setor primário, particularmente no que tange à produção de alimentos e à agroindústria. Urge restaurar o apetite pelo desenvolvimento dos anos 1960, posto não haver alternativa perceptiva. Mais grave: o Estado não pode errar, sob pena de termos de pagar o preço da falência definitiva do modelo ZFM. E isso não é terrorismo, nem bullying. Trata-se apenas da mais pura e austera realidade.