Por Carlos Alberto Teixeira para DIGITAL & MÍDIA de O GLOBO:
RIO. Chefe de desenvolvimento de Negócios da Fundação Wikimedia , Kul Wadhwa esteve no Rio ontem para dar uma palestra na UniRio sobre a Wikipédia, a maior enciclopédia da internet, que já tem cerca de 17 milhões de verbetes em outras 273 línguas. Em português, são 700 mil verbetes – mas a organização, que completa dez anos hoje, quer mais. Foi por isso que Wadhwa veio ao país: para convidar universitários e a comunidade em geral a participarem mais do site.
– A Wikipédia não é americana, não é europeia, não é de ninguém. Mas, ao mesmo tempo, é de todos nós – explica. – Todos podemos contribuir e fazê-la crescer, até que consigamos concretizar nossa visão, que é a de um mundo em que cada ser humano tenha livre acesso à soma de todo conhecimento.
Após recente levantamento, a Fundação descobriu que 53% das pessoas nos EUA são usuárias da Wikipédia em inglês. Na Europa Ocidental, esse número chegou aos 42%. No mundo inteiro, já são mais de 408 milhões de internautas que usam a Wikipédia a cada mês, acessando conteúdo enciclopédico em 273 idiomas. O site já é quinto mais acessado na rede, atrás apenas de Google, Microsoft, Yahoo e Facebook. Mas com uma diferença:
– Nosso gasto em publicidade e promoção é zero. Absolutamente zero – explica Wadhwa. – Com apenas 60 funcionários, e contando com a colaboração de nossos voluntários, já entramos numa fase em que as informações da Wikipédia são consideradas confiáveis. Isso pôs fim a um preconceito que existia. Hoje, até advogados nos EUA citam a enciclopédia on-line construída e mantida pela abnegada comunidade de “wikipedianos”.
Wadhwa relata que já existe no Brasil um grupo que trabalha em regime de mutirão, no sentido de ir a instituições, museus e bibliotecas de modo a convencer seus dirigentes a liberarem conteúdo para enriquecer o acervo da Wikipédia. E, para estimular seus espectadores, cita uma história de sucesso:
– Durante anos, o Museu Britânico proibiu que itens de seu acervo fossem usados na Wikipédia – conta Wadhwa. – Mas a enciclopédia on-line foi crescendo e solidificando sua reputação. Até que eles nos procuraram e pediram que alocássemos um funcionário nosso nas dependências do museu. Assim, tivemos acesso total ao acervo, com nosso homem fotografando qualquer peça da instituição e fazendo upload para a Wikipédia.
Novos desafios para a Fundação Wikimedia
Ninguém duvida que a Wikipédia seja mesmo um sucesso. Mas a Fundação Wikimedia, que a administra, opera diversos outros projetos colaborativos wiki on-line: Wikcionário , Wikiquote , Wikilivros , Wikisource , Wikimedia Commons , Wikispecies , Wikinotícias , Wikiversidade , Wikimedia Incubator e Meta-Wiki . E cada uma dessas iniciativas tem suas dificuldades inerentes, nas mais diversas áreas.
A Fundação também tem pela frente alguns desafios tecnológicos. Um deles é enriquecer a edição de verbetes, permitindo o uso do formato rich text (texto rico), que permite uma formatação mais fácil e variada.
O passo seguinte é mais ousado: adotar uma filosofia “WYSIWYG” (What You See Is What You Get, ou seja, o que você vê é o que você tem), em que a página é editada pelo voluntário já no seu visual final.
Outra meta é encontrar uma interface mais próxima das mídias sociais, motivando mais internautas a contribuírem. Os estrategistas da Fundação também estão atentos às tecnologias de mobilidade, que dariam ainda mais flexibilidade e agilidade aos contribuidores.
Facilitar a publicação de fotos, áudios e vídeos é outra das metas da Fundação Wikimedia. Além disso, ela está começando um projeto nas universidades americanas em que os professores ensinarão os alunos a contribuírem para o acervo.