Desde as eleições de 2010, vem ganhando força uma matiz de discurso que busca criar a ilusão de que um presidente da República do PT —seja ele Lula ou Dilma Rousseff— está em constante disputa com o próprio partido pelo controle do governo.
Esse discurso imputa ao primeiro a capacidade de “controlar” os assim chamados “radicais petistas”, enquanto a segunda estaria à mercê das articulações políticas desse grupo (uma premissa, além de falsa, carregada de machismo e desconhecimento sobre a companheira Dilma).
Nesse processo, tenho sido frequentemente apontado pela imprensa corporativa e pela oposição como aquele que fomenta ou lidera esse grupo fictício de petistas que querem “tomar” o governo, seja para implantar reformas radicais, seja para usar o poder para fins particulares —depende de como querem atacar o PT.
Pelo receio dos conservadores ou apelando ao emocional, ressuscitam, desta feita, a ofensiva oposicionista de 2005. Com mentiras que, sob a luz dos fatos, simplesmente não se sustentam, mas que têm servido de matéria-prima para artigos, editoriais e reportagens eivadas de má-fé.
Basta ver que seguem utilizando como base para sua ficção uma palestra que dei a sindicalistas e à militância do PT na Bahia, no ano passado, em que exaltei a possibilidade de sucesso eleitoral como uma vitória do projeto do PT, já que, pela primeira vez, não contávamos com Lula como candidato.
E reafirmo: Lula é um líder de grande carisma, um dos maiores que se tem notícia no Brasil e que deixou a Presidência como chefe de Estado mais bem avaliado da história do país. Essa condição confere a Lula um diferencial político, algo constatado, inclusive, por seus próprios adversários.
A vitória de Dilma, por outro lado, significou a vitória do crescimento econômico com criação de empregos e distribuição de renda, do combate à miséria, do incentivo à participação dos trabalhadores nas decisões dos rumos do país, da soberania de nossa política externa diante das potências internacionais.
Venceram as conquistas que somente um governo popular e progressista como o do PT é capaz de propiciar, e que, infelizmente, ainda enfrentam a resistência de determinados grupos da elite econômica brasileira. Venceu, portanto, a continuidade do projeto de Brasil que iniciamos a partir de 2003.
Não é a primeira vez que distorcem parte do que eu disse na ocasião: nas eleições, por conta da disputa política parcial encampada pela grande mídia, manipularam o conteúdo de minhas palavras para dar a entender que eu era contra a liberdade de expressão, enquanto o que eu havia dito era justamente o oposto: “quem passou por uma ditadura sabe que nunca vai existir excesso de liberdade de imprensa”. A mentira ruiu graças a um vídeo com a fala na íntegra, disponível na Internet.
Está claro que, impotente diante da aprovação popular recorde que o nosso projeto reuniu junto ao povo, a parcela conservadora da elite, por meio de seus órgãos de comunicação, tenta colocar em dúvida o futuro do Governo Dilma.Tenta, de forma canhestra, transfigurar o partido que ajudou a mudar o Brasil em ameaça a esse programa de crescimento econômico e social, quando o que se dá é exatamente o contrário.
Por isso, os brasileiros que têm orgulho de nosso país e do acelerado processo de desenvolvimento que vivemos desde 2003, temos de estar atentos: quando a luta política extrapola a disputa partidária pelo voto e se torna justificativa para deturpações intencionais dos fatos, o risco que há é o de ameaçar o futuro que se aproxima cada vez mais de nós.
Nestes casos, o caminho é um só, ir a campo denunciar tais práticas e defender o projeto de melhoria do país ora em curso.
José Dirceu, 65, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT