Fonte: UFAM
“A bioeconomia – a economia verde – é o futuro para complementar as cadeias produtivas ora estabelecidas no PIM”, afirma Osíris Silva, ao destacar a função das entidades de ensino, pesquisa e desenvolvimento na busca de superar os desafios regionais
Em apresentação repleta de indicadores atuais sobre a economia local e regional, o economista, empresário, escritor e ex-gestor público Osíris Silva expôs a membros da comunidade universitária e externa sobre o tema ‘Desenvolvimento Sustentável para o Estado do Amazonas – prioridades, obstáculos e mudanças necessárias’. A exposição, realizada na quinta-feira, 19, foi o ponto de partida para o debate promovido pela Pró-Reitora de Extensão da Universidade Federal do Amazonas (Proext/Ufam), no Fórum permanente.
Ao apresentar a metodologia de trabalho, o pró-reitor de Extensão, professor Ricardo Bessa, orientou os participantes sobre a riqueza de se propor uma tese, que depois será enfrentada pela antítese, culminando na síntese do tema em discussão. “Este é um lugar que a Universidade deve assumir, porque o nosso papel é promover o debate, fomentar a discussão e propor as soluções”, apontou ele, ao exemplificar sobre a necessidade de se criar cursos voltados à expertise regional, como as graduações em piscicultura, engenharia naval e medicina fitoterápica, que o professor utilizou como exemplos.
Egresso da Ufam há quase 50 anos, Osíris Silva apresentou dados que reforçam a indispensabilidade de aproximação entre a academia e a sociedade. Segundo argumentou, investir em ciência, pesquisa, desenvolvimento e inovação é o caminho eficaz para superar os desafios do modelo atual, este altamente dependente do Polo Industrial de Manaus (PIM), no âmbito de atuação da Zona Franca de Manaus (ZFM). “A bioeconomia – a economia verde – é o futuro para complementar as cadeias produtivas ora estabelecidas no PIM. E a Universidade, assim como os centros de pesquisa, é fundamental nessa trajetória”, afirmou Osíris.
Desafios e Perspectivas
Já dando início à exposição, o orador fez breve incursão histórica sobre a evolução da Economia no Amazonas, a qual, antes da década de 1970, era caracterizada como coletora-extrativista. “Alguns dos principais produtos eram madeira, couro, copaíba, andiroba, castanha do Brasil e peixes. Tratava-se de um extrativismo puro, sem caminhos alternativos para seguir”, destacou.
Ao tratar da Zona Franca, Osíris levou dados comparativos atuais, com destaque para os resultados entre os anos compreendidos entre 2013 e 2017, demonstrando a alta concentração de renda na capital amazonense, o que, conforme explicou, gera forte dependência do setor industrial. “Essa questão precisa ser absolutamente valorizada, porque apenas seis cadeias produtivas abarcadas pelo PIM respondem por 87% do PIB (Produto Interno Bruto) de todo o Amazonas”, enfatizou.
Ele revelou indicadores do PIM, como a redução de importação de insumos, que foi $$ 12 bi em 2013 e caiu para pouco mais de $$ 7 bi em 2017, e a queda da exportação de produtos, que foi de $$ 862 bi, em 2013, para $$ 479 bi, no ano passado. Em relação ao faturamento, a redução foi de $$ 38.50 bi, em 2013, para $$ 25,58 bi, em 2017.
“Ora, aqui não há produção agrícola apta a compensar essas perdas”, disparou, ao mencionar, ainda, a queda da quantidade de mão de obra absorvida no Polo Industrial: a redução registrada foi de 121.631, em 2013, para 87.070, em 2017. “Esses quadros não serão recompostos, principalmente em decorrência dos investimentos das empresas em automação, o que ainda reduz custos. Com menos pessoas se produzi muito mais”, disse. “O problema da Zona Franca foi o modelo e a falta de ajustes”, completou o orador.
Prosseguindo na alusão a informações de pesquisa, Osíris Silva informou: “Temos sim espaço para a produção agrícola. 54,73% do território amazonense é Unidade de Conservação Federal ou Estadual ou ainda terra indígena. Excetuando as áreas de reserva legal, ainda nos restam cerca de nove milhões de hectares que podem ser utilizados por esse setor”, expôs, lamentando o pouco investimento em pesquisa na área, como o caso do desenvolvimento de sistemas produtivos que levem em conta os aspectos locais.
Por fim, foram apresentados temas como o Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), que se resume a indicativos estratégicos de ocupação e uso do território em bases sustentáveis. Ou seja, é uma forma de definir as vocações de cada mesorregião, o que proporcionaria a realização de investimentos canalizados. “Quando falamos em revolução tecnológica, não é só no PIM, mas no setor de produção de alimentos ou no ramo de ecoturismo”, exemplificou o expositor, de uma perspectiva ampliada para o desenvolvimento regional.
Sobre o orador
Osíris Messias Araújo da Silva é natural de Benjamin Constant, é economista pela Universidade do Amazonas, turma de 1969, e consultor de empresas, sendo responsável técnico, desde 1972, por mais de 100 projetos de implantação na ZFM. É ex-secretário municipal de Economia e Finanças (1983-1986) e ex-secretário da Indústria, Comércio e Turismo e ex-secretário da Fazenda do Amazonas (1987-1991). Exerceu os cargos de presidente do Conselho de Administração do Banco do Estado do Amazonas, representante substituto do governador do Estado perante o Conselho de Administração da Suframa (CAS) e da Sudam (CONDEL).
Além disso, é empresário do ramo de produção agrícola e presidente da Associação Amazonense de Citricultores (Amazoncitrus), fundada em 1993. Desde 2009, é articulista econômico, abordando questões de desenvolvimento regional, Zona Franca de Manaus, política industrial e do setor primário, meio ambiente e sustentabilidade. É autor dos livros ‘Pan-Amazônia – Visão Histórica, Perspectivas de Integração e Crescimento’, de 2015; e ‘Economia do Amazonas – Visões do Ontem, do Hoje e do Amanhã’, de 2016.