A UFAM foi a bandeira da minha geração nos anos sessenta. O então deputado federal Arthur Virgilio Filho, figura proeminente do PTB, líder do Presidente João Goulart, ligado ao então Primeiro Ministro Tancredo Neves (poucos lembram que o Brasil durante um curto período foi parlamentarista) foi o parlamentar que conseguiu aprovar no Congresso nacional a criação da UFAM. Isso foi em 1962. E principalmente por isso, mas não apenas por isso, sempre foi respeitado e admirado pela nossa geração.Naquela época as famílias que tinham recursos mandavam seus filhos estudar fora. Os outros tinham apenas três opções: Direito, Economia e Filosofia.
Em 1965 a Universidade começou a ser implantada e os mais variados cursos começaram a ser oferecidos. O curso de Medicina surgiu pela determinação de muitos abnegados como o Reitor Jauari Marinho, o Prof. Manoel Bastos Lira, o Prof. Mário Moraes, o Prof. Ernani Corrêa, para citar apenas alguns.
Mais de quarenta anos depois é cruel para a minha geração assistir a crise da Universidade onde apenas 22% dos membros da comunidade universitária se interessaram pela escolha dos novos administradores, mas principalmente a crise do curso de Medicina ameaçado de não poder realizar o próximo vestibular por não atender reiteradas exigências do MEC.
Registre-se que curso de Medicina tem 600 alunos e 170 professores, ou seja, um professor para quatro alunos, uma média muito boa.
O que estaria havendo, então?
Não há meio termo: falta compromisso. Boa parte dos professores não tem compromisso com a instituição. Fazem do cargo “bico”, às vezes até por estarem na condição de substitutos, sem nenhum compromisso com a formação.
Depois a predominância de uma “política” barata que não leva a nada.
Lembro-me que quando estava na Prefeitura, certa feita atendi a apelos da Universidade para fazer um convenio repassando recursos para salvar o Hospital Escola Getúlio Vargas. Dias depois, por iniciativa de pessoas da própria Universidade, auxiliares meus foram intimados a prestar esclarecimentos ao Ministério Público sob a acusação de que ao município cabe a assistência básica e não a média e alta complexidade.
No mínimo, a Universidade, os seus gestores, os seus professores e seus alunos devem à nossa sociedade uma reflexão e, em seguida, iniciativa, ação, atitude.
A omissão será imperdoável com a memória dos que já se foram. E pior ainda será deixar tudo acabar, prejudicando as futuras gerações.
Os alunos vem e vão, depois esquecem da instituição em que se formaram, só pensando na sua própria subsistência!
Quanto aos servidores e professores, muitos só esperam o momento da aposentadoria. Outros, desmotivados pela falta de apoio e reconhecimento da instituição, caem no ostracismo!
Não bastasse isso, nos últimos anos só notícias negativas sobre a UFAM aparecem no noticiário, inclusive no ano de seu centenário!
A universidade estadual não tem autonomia (como as estaduais de São Paulo, por exemplo) e as privadas podem ter outros interesses prioritários!
É um círculo vicioso, onde a melhoria salarial depende da qualificação dos professores, principalmente obtenção do título de doutor, o que por sua vez demanda cursos de pós-graduação, que dependem de doutores qualificados, que exige dedicação, que exige boa remuneração!
Se as universidades e centros universitários no Amazonas não começarem a investir em pesquisa e pós-graduação strictu sensu, estarão sendo meramente emissoras de diplomas!
Isso tudo é ainda mais lamentável se considerarmos que a formação profissional pode estar deixando a desejar, colocando em risco a população! E também que o desenvolvimento científico-tecnológico em nosso estado está estagnado, o que pode ter sérias implicações para esta e outras gerações!
A dificuldade por qual passa a Ufam torna clara a ineficácia de nossas instituições de ensino superior, senão vejamos: 1. a maioria dos estudantes das faculdades públicas é de classe alta ou média; 2. os professores universitários, em sua maioria, não estão comprometidos com a melhoria da instituição para que trabalham, estando preocupados, apenas, com o status e o salário no final do mês, além de realizarem outras atividades profissionais concomitantes ao ensino, resultando, muitas vezes, em atrasos e faltas injustificadas; 3. as universidades brasileiras funcionam como grandes colégios, geralmente desconectadas com a produção de novas tecnologias, e longe de serem auto-sustentáveis, o que retira da educação básica recursos preciosos; 4. os professores universitários agem como se estivessem na educação básica, ao que respondem os alunos, deixando as universidades longe da função de produtora de conhecimento o que, sem parcerias com a iniciativa privada, engessa a nossa economia. (Essa é uma das explicações de porque o Brasil ainda não incorporou um alto nível de agregação de valor a seus produtos. Não temos carros, eletroeletrônicos, alta tecnologia, medicamentos complexos, etc. de fabricação nacional, o que nos deixa altamente dependentes das importações e da vinda de multinacionais para cá. Vide o Pólo Industrial de Manaus). Enfim, penso que as universidades brasileiras precisam assumir um papel pró-ativo em relação à sua participação no mercado de alta tecnologia. Enquanto ficarem atuando apenas como grandes escolas, creio que a situação da Ufam se repetirá pelo Brasil afora.