Por Osíris Silva
Tecnologia nunca estaciona. A recente “Paris Digital Week”, junto com o “Fórum de Governança da Internet” e a “Cúpula GovTech”, também realizados na capital francesa, buscaram aprofundar mudanças que tecnologias digitais, em particular, estão trazendo para nossas economias e sociedades. O foco das discussões que ocorrerão em 2019 é assegurar que as transformações digitais em curso venham a beneficiar todos os cidadãos. Recente estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) chama a atenção sobre “a oportunidade que se coloca aos líderes dos debates sobre políticas nos países e organizações dar um passo atrás e perguntar – estamos todos fazendo tudo o que podemos para assegurar que a inovação está de fato nos trazendo um mundo melhor?”.
Os esforços dos países membros da OCDE nesse sentido são grandes. De fato, segundo dados dessa Organização, desde o ano 2000 os gastos brutos dos países membros em P&D elevaram-se de 2,1% do PIB, para alcançar 2,3% em 2016. O Brasil encontra-se estacionado em algo como 1,4% do PIB. Em termos de PPP (paridade de poder de compra) corrente, apenas em 2016 acima de 1,2 trilhão de dólares foram aplicados em pesquisa e desenvolvimento na área da OCDE. Registre-se, adicionalmente, que, novos atores têm se juntado à cena da inovação global. Os gastos da China em P&D elevaram-se de 0,9% do PIB em 2000 para 2,1% em 2016, transformando o país na segunda maior performance no campo de P&D, atrás apenas dos Estados Unidos. A ìndia, por seu turno, já desponta na quarta posição sobre publicações científicas mais citadas relacionadas a máquinas de leituras – tecnologia-chave direcionada a inteligência artificial (AI).
A OCDE, de cuja Organização o Brasil ainda não é membro ativo, em relatório técnico de 2016 analisa as implicações de várias megatendências para os sistemas de Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) e apresenta projeções que deverão nortear o setor nos próximos 10 a 15 anos. Aponta como megatendências “mudanças sociais, econômicas, políticas, ambientais e tecnológicas, em larga escala, as quais, embora se formem lentamente, operam profunda transformação e influência duradoura em inúmeras atividades humanas, processos e percepções. São exemplos: o crescimento populacional mundial e a urbanização, o envelhecimento das sociedades em várias partes do mundo, o aquecimento do planeta e a elevação do nível do mar ou acidez dos oceanos, o aprofundamento da globalização, crescente dinâmica de digitalização, big data e bioengenharia.”
O reitor Sylvio Puga, da UFAM, ajustando-se às tendências de inovações tecnológicas da OCDE, vem se notabilizando por defender enfaticamente a ampliação da base de doutores da universidade, bem como o compartilhamento de seus laboratórios e pesquisadores com o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), que considera chave ao processo de geração de tecnologia inovativas necessárias à ampliação da matriz econômica do Polo Industrial de Manaus (PIM) por meio da agregação de novos campos produtivos no setor da bioeconomia. Esta base tecnológica, segundo Puga, conferirá maior densidade ao PIM, ampliando seus efeitos ao interior do Estado e da Amazônia Ocidental pela viabilização de novos negócios relacionados à biodiversidade, especialmente no que tange à empreendimentos nos campos de biofármacos, biocosméticos, à bioengenharia, serviços ambientais, à produção sustentável de alimentos e ao ecoturismo, vocações inatas da região.
Nesse sentido, “o CBA, nos próximos 20 anos, vai gerar grande impacto no Produto Interno Bruto (PIB) do Amazonas por meio das novas cadeias produtivas a serem atraídas para o Estado, salienta Puga, acrescentando: “O PIM está garantido até 2073 e nós não podemos ficar esperando que as coisas surjam do nada”. Parcerias e pró-atividade são palavras de ordem com vistas a assegurar, a partir de investimentos em ciência e tecnologia e, por consequência, na geração de produtos da floresta para o mundo”.