Neste voo semanal que faço a Brasília, sentei na cadeira do corredor. Logo chegou um senhor, que se sentou ao meu lado, e uma jovem senhora, à janela. Vim lendo os jornais, o vizinho do meio dedicava-se às palavras cruzadas e a jovem deu um jeito de se comunicar contando que tinha sido assaltada naquela semana: “Senadora!…”.
Não era uma cobrança, mas a voz era de indignação e de certo desespero por não ver prevenção à repetição do gigantesco trauma vivido.
O vizinho permanecia alheio à conversa e ela colocava que sua casa é num bairro nobre de São Paulo e o ocorrido fora às 6h40. O descuido, segundo a polícia, ocorreu em deixar o portão automático aberto um tempo antes de sair. Os assaltos desse tipo têm ocorrido principalmente quando a pessoa sai ou volta para casa e é rendida.
Entraram sete indivíduos, bem vestidos e armados até os dentes. Fizeram roleta-russa com os donos para achar o cofre, que não existia, bateram no dono da casa a ponto de um dos quatro empregados rendidos pedir aos ladrões “por favor, levem ele para um caixa eletrônico e parem com isso!”.
Foram 40 minutos de pesadelo. Ameaças, medo, a dona da casa oferecendo as joias, os objetos de valor que eles poderiam não identificar, como um vaso raro, e até explicando que naquela gaveta onde encontraram joias reluzentes eram todas falsas. Ouviu que Swarovski também tinha valor no mercado.
E a passageira continuou a desabafar, perdida na impotência. Duas coisas também me chamaram a atenção: os bandidos gritavam “não vou matá-los, só quero os bens”; e o atendimento na delegacia patrimonial, na qual o ressaltado era a sorte de terem mantido a vida.
Perder bens materiais, pelo jeito, já faz parte da situação que temos de nos acostumar. Mas, o pior de tudo, e que coloca uma questão séria, diz respeito ao iPad do casal, que possuía um tal de MobileMe. Esse serviço também funciona como GPS e disse exatamente onde se localizava o iPad.
O casal e a polícia foram para a casa do vizinho, pois os ladrões haviam levado todos os eletrônicos da casa, e lá puderam consultar com precisão onde estava o iPad: em uma favela na região sul.
Quanto mais detalhes ela contava mais eu ficava pasma e o jogador de palavras cruzadas se interessava. Animado, ele já participava dizendo que morava em Moema, “onde não dá para sair na rua”. Eu queria saber o fim da história e como os ladrões haviam sido presos por meio dessa tecnologia.
“Não foram presos. Com o uso do instrumento, foi possível ver a localização precisa, até a casa onde estava o iPad. E, provavelmente, os ladrões. Mas não quiseram ir lá.”
Com a palavra, a polícia e a Secretaria da Segurança.
MARTA SUPLICY escreve aos sábados nesta coluna.