Comunico, antes de entrar no assunto principal deste artigo, que entreguei, esta semana, a liderança do PSDB no Senado, que ocupei ao longo de quase oito anos, para o Senador Álvaro Dias. Meus pares, no entanto, num gesto de reconhecimento para com meu trabalho, guindaram-me à liderança da minoria, que, formada por PSDB e DEM, é o maior bloco da Casa. Cumprirei meu dever, nesse tempo que me resta do atual mandato, com o mesmo empenho de sempre. Irei à tribuna, quarta-feira, para fazer um discurso sereno, elevado e abrangente sobre a situação do País, bem longe do tom rancoroso sugerido nas especulações de colunas de jornais. E aguardo o julgamento justo do pleito que mantenho, para retomar o mandato, confiando plenamente na Justiça do meu Estado e do meu País.
Dito isto, chego ao tema principal deste artigo.
É inconcebível que se trate o Grupo Belmiro’s de forma tão cruel. Não se desrespeita uma tradição de 72 anos no comércio, tentando esmagá-la sob tacão, como tem feito o Amazonas Shopping.
Estabeleceu-se, no Brasil de tempos atrás, uma situação conhecida como “dança holandesa”, quando o País importava para abastecer o mercado interno e segurar a inflação. O resultado é que não exportava porque não produzia e não estabilizava a economia por gerar empregos no exterior.
O Grupo Belmiro’s trava uma luta de anos contra o valor exorbitante cobrado a título de condomínio pelo Amazonas Shopping, responsável pelo fechamento de tantas lojas. Deposita em juízo e em dia, no entanto, o aluguel mensal, cumprindo regiamente seu compromisso empresarial.
Dia desses, no meio dessa disputa, uma liminar foi concedida a favor do condomínio, às 21h30, e, em poucas horas, a loja âncora da Belmiro’s, mantida há 18 anos, teve o forro de gesso arrancado, escadas derrubadas, estrutura de alumínio retorcida, documentação subtraída e mercadorias atiradas num depósito, como lixo. Não foi feito sequer o necessário checklist dos produtos.
Cassada a liminar, três dias depois, não havia o que fazer. Tudo estava destruído. Todos se indagavam, perplexos, como se perpetrou aquela situação, que mesmo um grande grupo de vândalos teria dificuldade em causar.
Dona Alzira, funcionária daquela loja há 18 anos, o exato tempo de vida do Amazonas Shopping, indagava aos prantos o que fazer diante do caos que havia sido imposto.
O Grupo Belmiro’s tem sido muito digno para com seus mais de 100 funcionários, nesta e em outras lojas espalhadas pela cidade. Mesmo estando há meses sem funcionar no shopping, arrostando prejuízo considerável, não demitiu ninguém. Não tem, aliás, em todas essas décadas de vida, nenhuma reclamatória trabalhista pendente, conforme me garantem seus proprietários.
O sistema de shopping no Brasil funciona para privilegiar lojas âncoras. Somente elas aguentam a borrasca da 1ª e da 2ª onda, quando a maioria das lojas fecha, e vivem os lucros da 3ª onda, com o empreendimento consolidado. É o que faz uma Casas Bahia, que, pelo seu tamanho, compensa um eventual prejuízo aqui com os lucros de acolá.
O Amazonas Shopping depredou uma loja âncora. A Belmiro’s, por conta disso, mesmo estando com liminar favorável, está há dois meses sem funcionar. Perdeu o Natal! Sexta-feira, em nova liminar, o condomínio ganhou outra vez o direito de posse da loja. O que farão mais, desta vez?
O Brasil deve desenvolver mais seu espírito de defesa do patrimônio. O Governo Federal abre mão de refinaria na Bolívia e de altos investimentos no Equador, entre outros casos. É pouco enérgico. É benevolente.
Cuido do interesse de qualquer país. Aceito e entendo como um gesto humanitário a ajuda internacional que se possa oferecer, mas tudo isso desde que antes se ofereça esta mesma benesse aos pobres do meu País, que também precisam de recursos, de assistência e vivem tão mal ou pior que os povos aos quais se oferece tal auxílio.
Hoje é diferente do tempo em que o presidente Fernando Henrique recebeu um telefonema do presidente norte-americano Bill Clinton, seu amigo pessoal, pedindo em favor da compra de radares da empresa Raytheon. Com muito jogo de cintura, o Presidente empurrou o assunto para a frente até que a FAB decidiu, tecnicamente, que o melhor equipamento era mesmo da Raytheon, que ainda trazia empréstimo do Eximbank, de longo prazo e a juros baixos. Não cedeu, negou ou fez lobby. Tampouco favoreceu um agente estrangeiro. Apenas esperou até que o desfecho, sem qualquer servilismo, auxiliasse o interesse nacional de aproximação com a maior economia do mundo.
Num Estado como o Amazonas, onde o capitalismo derrama dinheiro para fraudar eleição, que pelo menos se resguarde o capital caboclo, de uma família tradicional, trabalhadora, relevante sob amplos aspectos da vida amazonense.
Espero um julgamento justo, o mais rápido possível, com a devida reparação aos danos causados a um empreendimento que, repito, ao longo de 72 anos, só construiu o bem, a partir do legado desse grande jornalista e empresário que foi Belmiro Vianez.
Minha solidariedade ao Grupo Belmiro’s.
* O autor é líder da minoria no Senado.
Publicado originalmente no Diário do Amazonas.