Os brasileiros conhecem e reconhecem o brilho da pena de Amadeu Thiago de Mello. O que ainda não aprendemos a admirar é seu companheirismo e seu extremo espírito nativista.
No auge da luta pela reeleição, num momento delicado da campanha, eis que alguém transmite-me um recado: “Thiago de Mello quer gravar um depoimento para o horário eleitoral”. Minha equipe foi até ele que, sem titubear, dedicou-me algumas palavras de pura emoção e generosidade. Foi um bálsamo. Solidariedade inesquecível.
Thiago, nascido em Barreirinha, foi atingido frontalmente pela ditadura. Refugiado no Chile, tornou-se amigo de Pablo Neruda e cada um traduziu a obra do outro. Deu enorme contribuição à história moderna brasileira, ao abrigar todos os refugiados políticos brasileiros que suas mãos conseguiram abarcar. Conselheiro de Salvador Allende, partiu quando Augusto Pinochet tomou o poder e deitou raízes na Argentina, Portugal, França e Alemanha. Derrubada a ditadura, tinha o mundo à sua disposição para morar, mas, com a solidariedade dos amigos, retornou à sua querida Barreirinha, de onde só sai quando algum compromisso inadiável o obriga.
Thiago tem obras traduzidas para mais de trinta idiomas. Seu poema mais conhecido, “Os Estatutos do Homem”, está umbilicalmente ligado à essência da Constituinte e da Constituição de 1988, em cuja cerimônia de promulgação o declamou, chamando atenção do leitor para os valores simples da natureza humana. Com “Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida” ganhou, em 1975, prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte e tornou-o conhecido internacionalmente como um intelectual engajado na luta pelos Direitos Humanos.
O CD comemorativo de seus 80 anos, lançado pela Karmim, em 2006, deveria ser obrigatório nas casas amazonenses, por sintetizar seus, até então, 55 anos de arte, ornados com a também genial música de seu irmão, Gaudêncio Thiago de Mello.
É esse amazonense, que o mundo das artes reverencia, a quem manifesto um agradecimento especial, em meio à minha luta de todos os dias. E o faço em homenagem a tantos que lhe seguem o caminho, anonimamente, mostrando com seus gestos a importância de seguir na luta.
Não desisto. Não recuo. Não traio ideais. Nem os meus, nem o de nosso povo. A poesia do idealismo, como mostram a obra e a vida de Thiago de Mello, é necessária.
* O autor é líder do PSDB no Senado.