Há dois meses vivi uma estranha experiência. Eu entrava na EBC, empresa que implantei e presidi por quatro anos, contratada como entrevistadora e comentarista. Muitos reencontros, abraços, recordações. Estava ali em outro papel, desencarnada do passado. Finalmente faria jornalismo na TV Brasil, o que não pude quando era presidente. Mal cheguei, na voragem da crise veio a posse de Temer, a violação do mandato do diretor-presidente Ricardo Melo e a nomeação de outra diretoria. Ontem, vestida para gravar Palavras Cruzadas, fui informada por Paulo Markun, âncora do programa, de que estava dispensada pela nova direção. Poderia apenas gravar o programa marcado. Se era assim, melhor não gravar, disse ao Markun, que concordou.
O fato de ter sido presidente não diferencia a minha dispensa (contrato de pessoa jurídica, por isso não falo em demissão) das dezenas de exonerações que estão sendo feitas na EBC. Sempre sem falar com as pessoas, que ficam sabendo pela rádio corredor ou pelo substituto. Está havendo uma tomada violenta da empresa e não posso deixar de dizer isso. Há um mandado de segurança não julgado ainda pelo STF. Dirigentes não tiveram seus nomes homologados pelo Conselho de Administração mas seguem cortando cabeças, perguntando quem são os petistas, quem é militante, quem é ligado a quem… Macartismo.
Diferente foi para mim, apenas para mim, a experiência de ser demitida pela empresa que me coube, juntamente com dezenas de outras pessoas comprometidas com a comunicação pública, para gerir um sistema público de comunicação que o Brasil nunca teve. Não para servir à luta política que está em curso, fazendo o Brasil em cacos. Neste curto período, comentei manifestações contra e a favor do impeachment, todas transmitidas ao vivo pela TV Brasil. Participei de entrevistas com gente de um lado e outro. Jorge Viana (PT) e Aloisio Nunes Ferreira (PSDB). Edinho Silva (PT) e Gilberto Kassab (PSD), por exemplo. Não me venham com esta conversa de que a TV Pública estava a serviço de um grupo, partido ou ideia. Estava fazendo o jornalismo como deve ser e como não tem sido feito.
Eu, que passei quatro anos sendo chamada de gerente da TV do Lula, quero que assumam o projeto de fazer a TV do Temer.
Comentário meu: A Tereza Cruvinel é uma jornalista na acepção do termo e o que foi feito tem nome: INJUSTIÇA!