Por Osíris Silva
O futuro da Amazônia, ao que a evolução da ciência indica, conecta-se indissoluvelmente a uma “terceira via” de desenvolvimento baseada na inovação tecnológica de ponta, no conhecimento tradicional e nos ativos da biodiversidade. Esta arquitetura inclui erguer em vários pontos da floresta centros de pesquisa, como o Vale do Silício, na Califórnia, e ter uma rede de cientistas internacionais (internacionais, observe-se) estudando sua riqueza biológica. A estratégia subjaz aos princípios que estribam a “quarta revolução industrial”, que se processa por meio de inteligência artificial, robótica, genômica e nano tecnológica. O tema foi discutido no Fórum Econômico Mundial, versão 2017, em Davos, Suíça, no último mês de janeiro.
Em suma, busca estender um olhar internacional sobre a Amazônia, não apenas por seus recursos naturais, como água, terra e minerais, mas às suas potencialidades nos campos de sua vastíssima biodiversidade. A tese consiste em pesquisar as riquezas biológicas da região, sobretudo as que se encontram escondidas. A abordagem foi exposta em um estudo publicado na revista PNAS (Proceeding of the National Academy of Sciences) por um grupo de cientistas liderados pelo climatologista Carlos Nobre, ex-pesquisador do INPA. Um plano de inovação em grande escala para a floresta, associando ciência e tecnologia ao conhecimento tradicional das comunidades locais e povos indígenas.
Integrar a Amazônia à quarta revolução industrial é um caminho sem volta. Hoje ou amanhã o vínculo haverá de se estabelecer. Segundo Klaus Schwab, diretor executivo do Fórum Econômico Mundial, de Davos, Suiça, e autor do livro “A Quarta Revolução Industrial”, lançado em janeiro deste ano, esta nova onda mundial “não é definida por um conjunto de tecnologias emergentes em si mesmas, mas a transição em direção a novos sistemas que foram construídos sobre a infraestrutura da revolução digital (anterior)”.
À ideia da “terceira via amazônica” está também associado o engenheiro bioquímico peruano Juan Carlos Castilla-Rubio. Defende o pressuposto de que “esta nova economia tem o potencial de ser muito maior do que a atual, baseada na exploração econômica com ‘intensificação sustentável'” envolvendo a integridade territorial pan-amazônica. Outro flanco do estudo aponta os riscos a que a floresta está submetida. “Fizemos um grande sumário do conhecimento mundial recente sobre Amazônia e apresentamos resultados novos sobre o efeito sinérgico do desmatamento com o aquecimento global mais os incêndios florestais, e considerando os efeitos benéficos do aumento da concentração de gás carbônico para a floresta”, informa Carlos Nobre.
De acordo com pesquisas evoluídas até aqui “esses fatores juntos mostraram que há dois limites que não podem ser superados para garantir o equilíbrio da floresta: chegar a 4°C de aquecimento ou 40% de desmatamento”. Se uma dessas condições for superada, os cientistas acreditam que se chegará a um ponto de ruptura, de tal sorte que em 2050 metade da floresta pode virar savana. Não confiam, todavia, na chamada primeira via de desenvolvimento regional, segundo debates de décadas atrás, a tentativa de preservar a Amazônia como unidade de conservação internacional. Por essa ótica, a ideia de colocar uma cerca na Amazônia mostrou-se totalmente inviável.
Açaí, babaçu, cupuaçu, uxi, guaraná, diversas plantas e raízes amazônicas têm potencial nos campos dos fármacos e cosméticos. O jambu, planta com propriedades anestésicas, encontra-se em estudo sobre seu uso em pastas de dentes ou em produtos anti-inflamatórios. Os cientistas rendem-se à evidência “do aprender” com as soluções desenvolvidas pelo ecossistema da floresta há milhões de anos. Obrigatório, nesse sentido, o mapeamento e democratização do uso dos conhecimentos gerados na região, muitos dos quais, lamentavelmente, por ausência de governança do sistema de C,T&I não chegam ao conhecimento da sociedade, nem ao mercado.