Terceira via

Por Osiris Silva

 

Membro da National American of Sciences (NAS), o professor e pesquisador Carlos Nobre, engenheiro eletrônico formado no ITA, doutor em meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), iniciou sua carreira profissional no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em 1975, e atuou como pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de 1983 a 2012. Munido dessas credenciais, em junho passado fez uma visita ao INPA para sondar uma futura parceria e ouvir os pesquisadores locais sobre a viabilidade de aplicação dos conceitos da chamada “terceira via” de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. Para ele, a reunião com os pesquisadores foi instrutiva e animadora para se colocar em prática a ideia do projeto. “Saímos daqui bastante animados e fortalecidos com a ideia de que vale a pena empreender conceitualmente essa “terceira via”, uma estratégia de desenvolvimento que se assenta no conhecimento científico e tecnológico”.

 

Segundo Nobre, a “terceira via” consiste numa estratégia inovadora que avança teses sobre uma política puramente de conservação ou de intocabilidade dos ecossistemas amazônicos. A hipótese, explica, é dar suporte a estruturação de políticas públicas voltadas à intensificação do uso do território amazônico para a produção de proteína animal, de grãos, de carnes, peixes, e de outras fontes oferecidas pela pecuária. “O que queremos propor com a “terceira via” é fugir de paradigmas que se colocam em conflito permanente e encontrar caminhos alternativos para atingir o desenvolvimento econômico regional” em consonância com a preservação de seu ecossistema, explica. Nesse sentido, deverá retornar ao Inpa para nova reunião com lideranças de pesquisas do Instituto ainda neste segundo semestre. Espera, na ocasião, poder apresentar um artigo onde serão submetidos os conceitos que fundamentam o projeto à discussão e críticas dos pesquisadores tendo em vista o aperfeiçoamento da proposta, ora em fase de construção.

 

O pesquisador Nobre acredita que o novo modelo conceitual deverá alavancar interesses tanto de instituições de fomento à pesquisa, como também de organismos internacionais, como o Banco Mundial, tendo em vista a obtenção de financiamentos necessários à posta em marcha do projeto, a partir de 2018, quando, espera, dê-se início à fase operacional do marco conceitual.  “A “terceira via” é sobretudo um projeto pan-amazônico, inicialmente focado no Brasil, que envolverá, numa segunda fase, todas as outras Amazônias”. Por essa razão, no entender de Carlos Nobre, o Inpa precisa atuar como protagonista do processo.  Alicerçado nas ferramentas da chamada Quarta Revolução Industrial, o projeto “terceira via” configura uma convergência de tecnologias revolucionárias nos campos digital, biológico e de nanomateriais.

 

Na opinião do pesquisador, a “terceira via” só pode prosperar se houver plena integração das aplicações econômicas e tecnológicas com o desenvolvimento contínuo da base de conhecimento, envolvendo ensino e pesquisa. “E o Inpa é o líder em conhecimento sobre a biologia da Amazônia”, destaca. “A grande riqueza da Amazônia não reside na proteína animal do gado nem na proteína vegetal da soja, mas na riqueza biológica contida na biodiversidade. Por isso é importante que o Inpa tenha o papel central na governança desses interesses, na qualidade de líder da geração de conhecimentos”.

 

É absolutamente imprescindível que, ainda nesta fase de estruturação da ideia o governo do Amazonas, a Suframa, a Prefeitura de Manaus, a UFAM, a UEA a ele se integrem efetiva e construtivamente. Não se pode admitir intervenções de tal magnitude na região sem o concurso das forças institucionais, políticas, de ensino e pesquisa locais. Nem prescindir do apoio do Comando Militar da Amazônia (CMA), e do projeto ProAmazônia, em fase de execução com parceria do próprio INPA e da Universidade. De igual forma, torna-se fundamental o envolvimento da Marinha e da Aeronáutica, líderes históricos no tocante à logística de integração regional.