Tecnologias e Zona Franca

Por Arthur Virgílio Neto

Retorno ao Amazonas, revejo amigos e fico feliz de perceber o quanto líderes importantes do comércio, indústria e política estão conscientes do momento grave vivido pelo modelo Zona Franca. É consenso: do jeito como as coisas estão indo, o fim virá bem antes que os paraquedas das alternativas de desenvolvimento consigam abrir.

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da música é um belo exemplo. Aprovada na Câmara Federal, ela ameaça concretamente os de 6 mil a 7 mil empregos diretos do segmento CD/DVD no Amazonas. Ao mesmo tempo, começou a funcionar a loja virtual iTunes brasileira, outro golpe na mesma ferida aberta pela PEC, onde o consumidor, no lugar de ir até uma loja de discos, simplesmente apresenta seu cartão de crédito e compra as músicas que quiser, armazenando e tocando no computador, dispensando o CD.

Aí está um risco para a ZFM, representado pelas novas tecnologias, talvez até maior que os golpes do Governo Federal.

O Amazonas assiste, impotente, aos produtos modernos sendo afastados de nós. Cria-se então o que chamo de presente-passado, com números, recordes seguidos, que apresentam a atual pujança do modelo, capaz de chegar este ano aos US$ 40 bilhões de faturamento. Ao mesmo tempo, o presente-futuro vai sendo comprometido, à medida em que os ícones da tecnologia moderna, como tablets e celulares do tipo smart fones, estão sendo incentivados em outros Estados.

Houve um momento, lá atrás, que a Zona Franca foi questionada por ser o único local do País a produzir CDs e DVDs, mídias e aparelhos de reprodução. Isso era a tecnologia de ponta daquele momento e representava, então, um presente-futuro radioso.

Agora, a ilusão provocada pelos números bons em cima de coisas velhas, que vão caducar, tem que ser desmistificada. Para o modelo voltar a ter um presente-futuro seguro é preciso revigorar tecnologia, investir em infraestrutura, que está falida, e em mão de obra, estimulando a inovação. Não vemos isso por aqui.

O ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, atualmente tão questionado por conta de suas consultorias, chegou a dizer que nós tínhamos que trocar de modelo e investir no extrativismo, na biotecnologia, no potencial regional. Mas isso não se faz num estalar de dedos. Primeiro é preciso consolidar a Zona Franca de Manaus e essas outras economias alternativas. Não pode dizer “acabou ZFM, passem fome por dez anos para poder investir na indústria de biotecnologia”. Isso é inaceitável.

Percebo preocupação do governador Omar Aziz, dos sindicalistas em geral – o PT tem uma grande força sindical e até enviou carta-alerta à presidente Dilma Rousseff – diante das ameaças claras ao modelo que sustenta toda a economia estadual. Não adianta tentar pintar o céu de azul no momento da tempestade porque esse é o pior serviço que podemos prestar ao povo amazonense.

PS: Raul Pompeia, Gonçalves Dias, Agnelo Bittencourt, Ulysses Bittencourt, Agnelo Uchôa Bittencourt e Anísio Melo, meus antecessores na cadeira que agora ocupo na Academia Amazonense de Letras, farei o máximo para honrá-los.