O saudoso Ulisses Guimarães sempre se referia à “sua excelência, o fato” como algo evidente, incontestável, e que estando à vista de todos não pode ser negado.
Essa figura do saudoso brasileiro cabe como uma luva nos recentes massacres ocorridos em Manaus, dia 1º e Boa Vista, hoje, dia 6. Logo após o primeiro as autoridades de todos os escalões e matizes trataram de jogar a culpa “nos outros”. Principalmente as autoridades federais. Embora existissem fatos que evidenciavam as verdadeiras causas sistêmicas e de responsabilidade coletiva, estas foram deixadas de lado, e a culpa foi repassada a terceiros de forma até simplória. A grande imprensa fez este coro.
As causas, que são os fatos evidentes aos nossos olhos, foram deixadas de lado. Nenhuma medida para combatê-las, mas veio o segundo massacre e as causas até então “esquecidas” se confirmaram de forma indubitável.
Cito algumas:
– entrada da droga pela fronteira não guarnecida como deveria;
– guerra de grupos nacionais pelo mercado da droga entre PCC de um lado e CV – FDN de outro;
– morosidade do aparelho estatal como um todo – Judiciário, MP e Defensoria – na apreciação das prisões, o que provoca a superpopulação carcerária, com predominância de presos provisórios, todos juntos e misturados com presos de alta periculosidade transformando as penitenciárias em barris de pólvora prestes a explodir.
Essa é uma questão nacional, é de todos nós. É do Brasil, não é só de Manaus, de Boa Vista, ou de Brasília, mas as autoridades federais trataram de blindar a si próprias e jogar a culpa nos outros.
O mínimo que se espera agora das autoridades após o massacre de Boa Vista que confirmou as verdadeiras causas são medidas concretas, que até mesmo para os leigos são óbvias, tais como:
– reforço da segurança das fronteiras com Peru, Colômbia e Venezuela para evitar a entrada de drogas e armas;
– mutirão, força tarefa, seja lá o nome que tiver, envolvendo Judiciário, Ministério Público, Defensoria e advogados para dar início a um mutirão de audiências de custódia, bem como libertar os que já cumpriram a pena ou já estão mais tempo presos do que seriam se fossem condenados de tal forma a liberar pessoas que estão presas ilegalmente;
– usar, quando necessário, a tornozeleira eletrônica;
– revistas semanais nos presídios para apreensão de armas e celulares;
– transferência dos líderes para outros presídios fora do estado;
– implantação de bloqueadores de telefones celulares nos presídios;