Setor primário: problemas e soluções (1)

Osíris Silva

 

A agropecuária amazonense encerra secularmente enormes desafios que vêm levando governos, sob certos aspectos, setores e cadeias produtivas a agir tímida e, muitas vezes improdutivamente ao longo dos anos. Daí por que programas e projetos nem sempre alcançam os resultados almejados. Quais enfim os gargalos que há décadas sem fim impedem o setor a dar o grande salto alicerçado em ganhos de qualidade, produtividade e sustentabilidade? O novo secretário da Sepror, Petrúcio de Magalhães Júnior,  já identificou muitos desses entraves. Reunindo a competência administrativa e a visão internacional da presidente do Idam, Eda Maria Souza, a estrutura técnica dos demais organismos que fazem parte do sistema, bem como o apoio das classes produtoras, à frente o presidente Muni Lourenço Júnior, da Federação da Agropecuária do Amazonas (FAEA), temos assim configurada a base institucional que certamente garantirá ao novo governo estadual plenas condições de retirar o setor primário do marasmo secular em que se encontra.

 

Solucionar problemas que desafiam governos há décadas exige contrapartida efetiva da corrente de forças parceiras. Transcende limitações de recursos, ora contornadas por meio da elevação da participação do  sistema Sepror no Orçamento Público, de 0,69% para 3% já a partir do exercício em curso. Além de boa vontade, competência e disposição ao trabalho, o que a atual gestão vem demonstrando de sobra, há, contudo, fatores subjetivos a serem equacionados. Em primeiro lugar,  os relacionados à  reestruturação do sistema de planejamento do Estado e do sistema Sepror/Idam; em segundo, a viabilização de  investimentos na formação de pessoal técnico de campo, tendo em vista ampliar e melhorar a qualidade do quadro de extensionistas, e da própria gestão dos escritórios locais espalhados pelo interior. Este passo exige a contratação de significativo contingente de agrônomos e técnicos especializados, fora a execução de programas de treinamento e reciclagem do quadro atual. Sem o que, por mais boa vontade da cúpula, como se diz na roça, o boi não anda.

 

Outros entraves de porte, responsáveis pela desestruturação do setor primário no Amazonas decorrem diretamente de fatores externos, muitas vezes longe do alcance do Executivo, dentre os quais destacam-se: a) ausência de pesquisas e estrutura operacional, termos que seriamente dificultam o empreendimento de ações eficazes do poder público voltadas ao equacionamento dos problemas e a garantia ao homem do campo, objetivo maior da ação de governo, de condições dignas de vida proporcionadas pelo seu trabalho; b) desativação da base de planejamento agrário e extensão rural montada por Acar/Emater nos anos 70, resultando daí extrema escassez de técnicos de campo, notadamente na pecuária, fruticultura, piscicultura, tecnologia de madeira, farinha e grãos; c) prática recorrente de transformação da base do sistema Sepror/Idam no interior em escritórios eleitorais de apoio a candidaturas oficiais.

 

Tais disfunções são seriamente potencializadas por outro problema ainda mais grave: ausência de sistemas de produção (pacotes tecnológicos) ajustados às vocações potenciais e às alternativas agroeconômicas apontadas pelos Zoneamentos Ecológicos Econômicos (ZEEs), ainda inexistentes no Amazonas. Com efeito, muito difícil produzir sustentavelmente frutas, verduras, legumes, mandioca, feijão, arroz, milho, peixes, carnes e laticínios sem o suporte da pesquisa, com graves déficits de pessoal técnico especializado no campo e no suporte administrativo, responsáveis diretos pela baixa eficiência da assistência técnica prestada ao produtor. As soluções estão na boa gestão, governança do sistema de pesquisa e desenvolvimento e parceria com o produtor..

  • Este artigo tem por objetivo esclarecer aos diversos e-mails que recebo e comentários postados em minha página no Facebook sobre o assunto.