Historicamente ínfimo o desempenho das potencialidades do setor primário do Amazonas no tocante à oferta agregada de bens de consumo, matérias primas regionais e commodities. Problema que remonta aos tempos coloniais. No século XIX e até meados do XX predominou o extrativismo na região, destacando-se a produção de borracha, balata, madeiras, piaçava, sorva, castanhas, óleos essenciais, pescados, couros e peles de animais selvagens. A exploração extrativa sustentou a economia regional no período subsequente ao debacle da borracha, quando, por volta de 1912-1915 o sudeste asiático superou a Amazônia, derrubando dramaticamente os preços internacionais até então ditados pelo Brasil. Sequência ininterrupta e irreversível da desativação de seringais nativos que se seguiu levou à lona a economia da região, causando grave estado de empobrecimento de seringueiros, seringalistas, comerciantes, regatões e da sociedade em geral. O Amazonas se transformou em porto de lenha.
Entende-se como extrativismo, grosso modo, toda atividade de coleta de produtos naturais, seja de origem mineral (exploração de minerais), animal (peles, carne, óleos), ou vegetal (madeiras, folhas, frutos). É a mais antiga atividade humana, antecedendo a agricultura, a pecuária e a indústria. Esse sistema de exploração econômica dos recursos da natureza é praticado mundialmente através dos tempos por todas as sociedades. O maior problema decorre de que os recursos naturais são não renováveis, portanto, finitos. Nestes termos, incapazes promover o desenvolvimento sustentado segundo forma, técnica, método científico e sistemas produtivos. Face à essas circunstâncias, a alternativa para compensar tal desvantagem consiste no desenvolvimento de sistemas produtivos que possibilitem a renovação de cadeias produtivas em bases de maior eficiência da ocupação, da relação do fator capital/trabalho e da produtividade. Alguns estados foram ajustando suas estratégias de crescimento, superando com o tempo tais barreiras. Não o Amazonas, todavia.
O épico “Coronel de Barranco”, extraordinário romance de Claudio de Araújo Lima, dá uma boa pista sobre o “x” da equação. Dentre às regras a serem cumpridas pelo seringueiro ao assumir sua “colocação”, era-lhe devidamente patenteado que, “antes de mais nada, de que ficava expressamente proibido de plantar, fazer lavoura, caçar ou pescar”. O “brabo”, homem oriundo do Nordeste, acostumado a plantar seu feijão, milho, fumo e a manejar sua criação, obrigava-se, no entanto, a) “consagrar o tempo de trabalho, numa faixa média diária de doze horas, somente à extração da borracha”; e b) aviar suas necessidades de suprimentos “exclusivamente no armazém do seringal”, semanal ou quinzenalmente, dependendo da distância do centro explorador. Era-lhe cientificado cabalmente de ser considerado “crime tentar a aquisição de mercadorias em turco de regatão, a quem também não podia, em hipótese alguma, vender qualquer quantidade de seringa, por menor que fosse”. Não é por acaso que o ciclo da borracha praticamente nada deixou de contribuição ao setor primário.
Atualmente, no Brasil, a seringueira é cultivada em doze estados: São Paulo, Bahia, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Espírito Santo, Pará, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Paraná, Amazonas e Acre. Segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), são mais de 25 mil famílias que vivem do produto da seringueira em mais de 40 mil hectares de área plantada. O setor, que emprega uma pessoa por quatro hectares, é responsável pela geração de 80 mil postos de trabalho. A produção nacional de borracha natural (látex coagulado), em 2014, segundo o IBGE foi de 320 mil toneladas. O estado de São Paulo responde por 58% do total, 185 mil t. Bahia produziu 48 mil t (A Amazônia, nos tempos áureos, produzia em torno de 40 mil t), Mato Grosso, 27 mil e Espírito Santo, 11 mil t. A produção brasileira representa não mais do que 3,2% da produção mundial, superior a 10 milhões de toneladas. Outras batalhas serão avaliadas na próxima semana.