SERRA ENFRENTA ABDEL NO NOVO SENADO

Por Ribamar Bessa:

O pau vai comer na Casa de Noca e não será entre as candidatas a miss Amazonas Carolina Toledo e Sheislane Hayalla. Dois novos senadores empossados neste domingo (01/02), terão enfrentamentos memoráveis na 55ª legislatura. Será um duelo de titãs. Um deles, o economista José Serra, filho de italianos da Mooca, bairro da capital de SP, é nacionalmente conhecido, pois foi candidato a presidente da República. O outro, o engenheiro Omar José Abdel Aziz, um ilustre desconhecido para o Brasil, nasceu em Garça, interior de SP, mas sua vida política foi toda no Amazonas. Eles, que divergem sobre a legalização de cassinos, transformarão o plenário num ringue octogonal de UFC.
Enquanto o Diário do Rio de Janeiro teve no séc.XIX um escritor de expressão nacional, Machado de Assis, que noticiou na crônica O Velho Senado os embates ocorridos no passado da instituição, o Diário do Amazonas tem, no séc. XXI, um colunista municipalmente célebre que informa aos seus leitores sobre O Novo Senado e o que vai rolar nele, como o primeiro discurso de Abdel Aziz, ainda não pronunciado, mas escutado atentamente por Renan, Collor, Jader Barbalho, Perrella, Jucá, Lobão e outros colegas probos. O que aqui inventamos, quase sempre acontece.
Com uma trajetória pluripartidária, Omar Abdel Aziz trocou de partido mais vezes que o Comendador mudou de camisa preta e encardida em toda a novela Império. Na juventude estudantil, quando o conheci, militava no PCdoB, depois se filiou a vários vixe-vixes: PSL, PDC, PPR, PMN e agora o PSD que escambará pelo futuro PL, quando este for oficializado pelo Kassab. Eis aqui trechos do seu discurso:
O SR. OMAR JOSÉ ABDEL AZIZ (PSD-AM – Eca!) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, tem-se discutido nesta Casa vários projetos de lei tratando, entre outras coisas, da abertura de cassinos no Brasil. Quero manifestar meu voto favorável pelo impacto que terá na economia do país, aumentando a arrecadação de impostos, gerando empregos e promovendo circulação de riquezas. Com cassinos aqui, autoridades que costumam viajar em jatinhos pagos com dinheiro da Viúva para Aruba, Las Vegas, Atlantic City, Monte Carlo, passarão a arriscar a sorte em território nacional, o que redundará em enorme economia para o Erário.
Basta de hipocrisia! Não foi apenas o ínclito ministro da Educação Cid Gomes que levou sua sogra e toda família para a Europa com recursos públicos. Quantos aqui nesta Casa usaram, em algum momento, verba pública em viagens planejadas justamente para áreas onde por coincidência funcionam cassinos? Por isso, defendo a fusão do Projeto de Lei do Senado 186/2014, de autoria do nobre senador Ciro Nogueira (PP-PI), com o do ex-senador Mozarildo Cavalcanti (PPB), que previa instalações de cassinos em hotéis da Amazônia e do Pantanal. Só assim poderemos exercer livremente o direito de arriscar a sorte em roletas de cassinos nacionais.
Os impostos pagos pelos cassinos permitirão investir em áreas críticas, como Segurança. Em meu governo no Amazonas, o “Ronda nos Bairros” da PM só não fez mais por falta de recursos. De qualquer forma, enquanto fui governador, não houve balas perdidas, todas foram achadas. Com tributos pagos pelos cassinos, podemos até exportar para o Rio de Janeiro o “Ronda nos Bairros” e contribuir para encontrar aquelas balas que tantas mortes vem causando em território fluminense.
Os adversários da legalização dos cassinos alegam que eles foram proibidos em 1946 no governo do presidente Marechal Eurico Gaspar Dutra porque eram focos de corrupção. Ora, nobres colegas, quem vos fala é alguém que realizou uma administração limpa no Amazonas, no meu governo nunca teve escândalo, todos os gastos, inclusive de viagens para o exterior e cidades com roletas legais, foram aprovadas pelo Tribunal de Contas, presidido por Josué Filho, pai do nosso correligionário do PSB, Josué Neto, presidente da Assembleia Legislativa.
Temos que seguir, nobres colegas, o exemplo do país mais desenvolvido do mundo, os Estados Unidos, onde as roletas são legais, promovem o desenvolvimento, minimizam as desigualdades sociais, potencializam o turismo. Em qualquer parte do mundo, os cassinos são fatores de desenvolvimento. Com os benefícios por eles trazidos, podemos investir em produção de energia elétrica, evitando a crise que meu nobre colega, Eduardo Braga, ministro de Minas e Energia classificou, com muita propriedade, como “descasamento entre produção e transmissão de energia”.
O SR. JOSÉ SERRA (PSDB-SP)- Senador Abdel Aziz, V. Exª me concede um aparte?
O SR. OMAR JOSÉ ABDEL AZIZ (PSD-AM) – Ouço V. Exª com prazer
O SR. JOSÉ SERRA (PSDB-SP)- Nobre colega, Abdel Aziz, a campanha em favor dos cassinos concentra-se em uma tese bastante simples, embora falsa – advirto – e que é também fácil de entender. Diz-se que, erroneamente, cassinos significam mais empregos para o Brasil. Entre os interessados nos cassinos há brasileiros / estadunidenses – pessoas que, provavelmente, tem dupla nacionalidade e podem estar ligados à máfia norte-americana – que estão empenhados em fazer negócios no Brasil.
É importante argumentar que os cassinos não trarão recursos do exterior. Dificilmente um turista viria ao Brasil para jogar, deixando de fazê-lo em Las Vegas ou em Monte Carlo. Não vejo por que estrangeiros ricos, que viajam para jogar, teriam um “acesso de verde-amarelismo”, indo jogar no Oiapoque, no Chuí, em Eirunepé ou em Urucurituba. Ao mesmo tempo, não creio que brasileiros ricos que atualmente viajam para jogar no exterior deixem de fazê-lo. Eles não têm interesse de aparecer em reportagens da revista Caras, muito menos de serem alvo de fiscais do Imposto de Renda à procura de demonstrações externas de riqueza por parte de contribuintes.
Portanto, estou convencido de que o dinheiro estrangeiro, dólar, não virá com a instalação de cassinos; aliás, ao contrário, diria que a tendência é enviarmos dólares ao exterior. Grande parte ou pelo menos os mais importantes cassinos são propriedades de estrangeiros e, portanto, os lucros e dividendos sairiam daqui. Ou seja, os jogadores brasileiros perderiam esse dinheiro que seria convertido em dólar e enviado ao exterior. Uma maravilha em matéria de utilização das escassíssimas divisas e da crise da balança de pagamentos que enfrentamos neste século. Estou convencido, ainda, de que os cassinos não geram empregos líquidos. Há uma ilusão a esse respeito. É uma fantasia.
Por outro lado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, longe de mim querer negar a experiência na matéria do nobre colega Omar Abdel Aziz. Creio, no entanto, que não estarei sendo cruel com as elites brasileiras se disser que elas tradicionalmente sempre exibiram uma macaquice com relação aos exemplos que vêm do Norte, mais particularmente dos Estados Unidos. Nossas elites sempre foram permeáveis a esses exemplos. No entanto, a experiência norte-americana desaconselha a implantação de cassinos no Brasil e confirma os argumentos que apresento.
O SR. OMAR JOSÉ ABDEL AZIZ (PSD-AM) – Nobre senador José Serra, interrompo o aparte concedido porque nosso espaço no Taquiprati se esgotou. Continuaremos o debate em outra oportunidade.
P.S. – O discurso do senador José Serra foi efetivamente pronunciado há alguns anos. O do senador Omar José Abdel Aziz foi um passarinho que me contou.