O deputado estadual Serafim Corrêa (PSB) fez uma homenagem, nesta terça-feira, 15 de dezembro, da tribuna da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), ao ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, pela passagem dos seus 104 anos, se vivo fosse.
“Se vivo, Miguel Arraes completaria 104 anos. No dia em que completa 104 anos, tenho nele alguém que inspirou muita coisa. Não apenas eu, mas a minha geração se inspirou nesse homem. Arraes, eleito prefeito de Recife, eleito governador de Pernambuco em 1962, ele tinha uma bandeira. Ele tinha uma bandeira que se sobressaia as outras bandeiras que ele também tinha. Era um acordo no campo”, disse.
O líder do PSB da Casa Legislativa afirmou que Arraes lutou para que as leis trabalhistas fossem cumpridas, numa época em que as elites acreditavam que a dignidade do salário se tratava de comunismo.
“Naquela época, a lei do salário mínimo, que já existia há 25 anos, não valia no sertão. Miguel costurou o “ acordo do campo” pelo qual os usineiros se obrigaram a pagar, ao menos, um salário mínimo aos boias frias. Imagine hoje não pagar um salário mínimo ao trabalhador. Isso seria um escândalo. Naquela época, para as elites do nordestinas, quem pedia, defendia que se cumprisse as leis trabalhistas, era comunista. Miguel Arraes me disse que o maior desafio dele nas eleições de 1962 era provar que não era comunista, não queria tomar a propriedade de ninguém, mas que a lei fosse cumprida”, afirmou.
Em 1962, mesmo com a pressão das elites, Arraes seguiu com o pensamento de aplicar as leis trabalhistas também aos boias frias e ganhou as eleições para o governo de Pernambuco com o apoio de um dos usineiros que reconheceu o direito ao salário.
“Em 1963, os camponeses vieram do sertão para o desfile de Sete de Setembro e desfilarem com a enxada nos ombros. Isso foi visto como uma afronta aos militares. Não se tratava de uma afronta, era homenagem ao homem que buscava diminuir as desigualdades sociais. Isso é socialismo. Isso é esquerda. Esquerda é o partido do movimento. Direito é o partido do poder, da ordem. Arraes ficou ao lado do movimento”.
Em 1964, no Regime Militar, foi dada a Miguel Arraes a opção de renunciar ao cargo. No Palácio das Princesas, ele disse que não iria renunciar. Após isso foi preso, levado para Fernando de Noronha e com habeas corpus foi exilado na Argélia até 1980. Após isso foi governador por mais dois mandatos e deputado federal por três vezes.
“Brasil sente falta de homens da conciliação, do entendimento, como foi Miguel Arraes que buscou sempre diminuir as desigualdades sociais, optando em ficar do lado mais fraco da sociedade. No dia em que ele faz 104 anos, não podia ficar calado. Como membro do seu partido, que estou há 33 anos, e que convivi a 20 anos com ele, tive a oportunidade de ouvir dele a história do Brasil no século XX”, finalizou.