Fonte: Poder360.com.br – Por Leila Coimbra, Jamile Racanicci e Teo Cury
Presidente do BC foi o convidado do Poder360-Ideias
Para ele, criticar indexação da TLP é desviar debate
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, não acredita que a economia brasileira viverá 1 cenário catastrófico caso a reforma da Previdência não seja aprovada.
“Acho que nada é 1 colapso no cenário em que a gente está. Mas se não passar [a Previdência] vai ser pior. Haverá menos crescimento, os juros ficarão mais altos”, declarou durante jantar do Poder360-ideias na noite desta 3ª feira (15.ago.2017). O evento reuniu empresários e jornalistas no restaurante Piantella, em Brasília.
O presidente do BC voltou a destacar a relevância da aprovação no Congresso de reformas promovidas pela equipe econômica do governo Michel Temer.
“Não dá para prever se vai aprovar só a idade mínima, mas quanto mais profunda a reforma, melhor”, disse.
Goldfajn comemora que o debate sobre a redução de despesas não seja restrito aos gastos discricionários:
“Finalmente se está discutindo crescimento de despesas obrigatórias”.
TJLP: desvio de rota
Ilan considera a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) 1 desvio de rota. A taxa de juros do BNDES foi subsidiada com recursos do Tesouro Nacional, o que aumentou o endividamento público. A MP 777 propõe a criação da TLP (Taxa de Longo Prazo) para substituir a política de juros artificialmente baixos do banco.
“A TLP vai ajudar a consertar isso e permitir o financiamento privado”, afirmou.
O presidente da autoridade monetária diz que os bancos privados não conseguem competir com as taxas mais baixas do BNDES. Segundo ele, a TLP vai permitir a retomada dos empréstimos pelo setor financeiro tradicional. A TLP é alvo de críticas por ser indexada ao índice de inflação (IPCA).
“Não vou entrar nesse debate, mas o Brasil está atrelado a índices. Usar esse argumento é desviar a discussão. É o único lugar no mundo onde metade do crédito é subsidiado”, afirmou.
MP da leniência
Em discussão na comissão especial, a MP 784 autoriza o BC e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) a firmarem acordos de leniência com instituições financeiras e do mercado de capital. O projeto havia causado atrito entre a autarquia e o MPF (Ministério Público Federal). O órgão criticou a proposta por “blindar” bancos de investigações criminais.
“Não temos hábito de fazer debate público de divergências, mas tem havido 1 bom entendimento [com o MP]. A gente não quer se meter em crimes penais e de corrupção”, afirma Ilan.
Para o presidente do BC, o escopo da proposta são irregularidades no âmbito administrativo de instituições financeiras.
Política monetária
Ao final do jantar, bem humorado, Ilan brincou que até aquele momento ninguém havia perguntado a ele sobre política monetária. Mas voltou a sinalizar que, mantidas as condições atuais, o ritmo de corte da taxa básica de juros deve ser mantido.
“Há hoje uma previsibilidade maior. Os juros estão caindo e a inflação se aproxima da meta”, declarou.
No começo de agosto, o presidente Michel Temer disse que a Selic “pode chegar ao fim do ano entre 7% e 7,5%”. Sobre isso, o presidente do BC é pontual:
“Ele [Temer] expressa suas expectativas, o que é positivo, como qualquer cidadão faz”.
De acordo com Ilan, a estimativa de Temer está alinhada com a previsão do mercado, que, de acordo com o Boletim Focus, prevê uma taxa de juros de 7,5% ao ano no encerramento de 2017.
No início do jantar, como de costume, o BC colocou em seu site os apontamentos (leia a íntegra) que o presidente da autarquia costuma abordar nos eventos em que aparece. Nele, o presidente destacou a necessidade de dar continuidade aos esforços para que a taxa de juros estrutural possa ser reduzida.
Segundo ele, a extensão do ciclo de flexibilização monetária dependerá de fatores conjunturais e das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira.
“A evolução do processo de reformas e ajustes necessários na economia (principalmente das fiscais e creditícias) é importante para a queda das estimativas da taxa de juros estrutural”, disse.
Concorrência entre bancos
O presidente do BC defende que pessoas com recursos próprios façam empréstimos diretamente. Ainda que haja poucos bancos grandes, a medida ajuda a aumentar a concorrência.
“O problema não é a concentração, é a competição”, afirmou.
Além disso, salientou, colaboram para 1 cenário mais competitivo a diminuição de barreiras de entrada e saída do mercado, o fomento à inovação e à tecnologia, bem como o fortalecimento de pequenos e médios bancos.
O que é o Poder360-ideias
Divisão de eventos do Poder360, o Poder360-ideias realizou o jantar com Ilan Goldfajn, empresários e jornalistas nesta 3ª feira (15.ago), em Brasília. O novo núcleo promove debates, entrevistas, encontros, seminários e conferências com o objetivo de melhorar a compreensão sobre a conjuntura nacional
Este foi o 3º evento organizado pelo Poder360-ideias. A 1ª edição teve como convidado principal o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, em 20 de junho. Já na 2ª edição, o convidado foi o presidente da Petrobras, Pedro Parente, em 17 de julho.
Estiveram presentes, além do presidente do BC, o economista-chefe da Bradesco Asset Management, Marcelo Toledo, o cônsul-geral do Brasil em Tóquio, Marco Farani, o diretor da Q&A Associados Ênio Vergeiro, o diretor da Souza Cruz Fernando Bomfiglio, o diretor da Coca-Cola Brasil Victor Bicca, o diretor da Coca-Cola Femsa Brasil Rodrigo Simonato e o diretor financeiro do Grupo Bradesco Seguros, Vinicius Marinho da Cruz.
Além dos jornalistas do Poder360, participaram Sérgio Fadul (O Globo), Valdo Cruz (GloboNews), Cristiano Romero (Valor Econômico) e Denise Rothenburg (Correio Braziliense).
O jantar do Poder360-ideias tem sido realizado no Piantella, tradicional restaurante de Brasília. A sala usada para o encontro fica no mezanino do estabelecimento e é decorada com fotos históricas de políticos e eventos do poder na capital federal.
Ilan Goldfajn
Ilan Goldfajn, 51 anos, preside o Banco Central desde junho de 2016. Foi indicado por Michel Temer, quando ainda era presidente interino. Ilan assumiu a autarquia em meio a 1 cenário econômico conturbado. À época, a inflação em 12 meses estava em 8,84% e os juros a uma taxa de 14,25% ao ano. Atualmente, os indicadores estão no patamar de 2,71% e 9,25%, respectivamente.
Ao ser sabatinado no Conselho de Assuntos Econômicos do Senado, deixou claro que seu objetivo seria “cumprir plenamente a meta, mirando seu ponto central”. Em seu discurso de posse, ressaltou ser “fundamental manter e aprimorar a autonomia do Banco Central”.
Ilan integrou a equipe de economistas do FMI (Fundo Monetário Internacional), de 1996 a 1999. Em sua 1ª passagem pelo BC, há 13 anos, foi diretor de Política Econômica, de 2000 a 2003, no final da gestão Arminio Fraga e no começo da gestão do atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Também foi economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco, de abril de 2009 a maio de 2016.