LEÃO SERVA, do site OBSERVADOR POLÍTICO:
Qualquer paulistano que não seja por demais tapado ou propositalmente surdo sabe que greves de ônibus e limpeza urbana só prosperam quando os patrões querem. São locautes velados. É assim desde Washington Luis e Julio Prestes, como ensinavam os nossos avós. Os jornalistas provavelmente se enquadram na segunda categoria, pois mesmo que não tenham observado a história recente de sua cidade, têm os arquivos para consultar.
A paralisação de hoje, em que motoristas e cobradores deixaram cerca de 8 mil veículos parados (metade da frota, aproximadamente) é um típico caso desses: o que reivindicam é que seus patrões não sejam multados… Tá brincando? Não, é isso mesmo.
E como chegaram a isso? Porque os patrões repassam a eles, com sobrepreço, as multas que recebem.
Mas como a Prefeitura não tem ônibus (desde a gestão Maluf, 1993-1996, todo o sistema é privatizado), um problema entre patrões e empregados deveria ser obviamente resolvido entre eles, como em qualquer empresa privada.
Quando os patrões repassam multas com sobrepreço aos funcionários, estão dando a eles a desculpa para agirem. Quando eles param de trabalhar e pedem que a Prefeitura pare de multar seus patrões estão revelando de um lado seu peleguismo e de outro o conluio. Com clareza como há muito não se via.
Ora, se a Prefeitura parasse de multar, estaria dizendo que motoristas e empresas de ônibus podem fazer a loucura que quiserem no trânsito, nas ruas e corredores de ônibus. Que são superpoderosos, privilegiados sem limite. Podem não parar no ponto para a velhinha, querem atravessar sinais vermelhos quando acharem que é o caso, querem exceder a velocidade…
Há muito que a cidade precisa de uma nova organização do sistema de ônibus. Com a expansão do Metrô, linhas ficam ociosas, como o corredor Rebouças, um problema desde que foi criado na gestão Marta (2001-2004) e que agora pode ser extinto sem prejuízo maior para quem vai do Centro ao Butantã, por exemplo.
A Prefeitura deveria aproveitar o locaute velado de hoje para iniciar o processo.
Comentário meu: O texto acima refere-se à cidade de São Paulo, mas vale para qualquer outra cidade brasileira, principalmente Manaus.