Os mais velhos costumam dizer que quando a esperteza é demais, come o dono.
O ex-Governador Joaquim Roriz, de Brasília, foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Perdeu no TSE. Recorreu ao STF. Foi julgando o seu processo que o STF decidiu não decidir.
No dia seguinte, fez a mais ousada jogada de todos os tempos na política de Brasília. Renunciou, sendo substituído pela sua esposa, D. Weslian. Com isso, acontece o seguinte:
– Desaparece o questionamento quanto à candidatura dele. O recurso no STF perde o objeto e nele nada mais poderá ser dito (pelo menos em tese);
– Na urna, vai continuar aparecendo o nome e a foto dele Roriz e não de sua esposa, o que, em tese, vai fazer com que o seu fiel eleitor ache que está votando nele mesmo;
– A campanha vai destacar a sua imagem (como na arte acima) e o seu nome (como se vê na arte abaixo):
Se vai ganhar, ou perder, saberemos domingo à noite, mas cá para nós, o povo de Brasília não merece isso. É esperteza demais.
Agora veja o manifesto que ele lançou ao fazer o anúncio da troca:
RASGARAM A CONSTITUIÇÃO. MINHA FICHA É LIMPA.
“Me julgaram apegados às luzes dos holofotes, rasgaram a Constituição. Não sofri condenação.
Minha ficha é limpa e minha consciência mais limpa do que a consciência dos que me acusam sem provas; e até mesmo do que a de alguns juízes que me julgaram apenas com base em sofismas, muito mais apegados às luzes dos holofotes do que ao espírito das leis.
Para isso valeu tudo: rasgaram a Constituição; jogou-se no lixo os princípios gerais do Direito; construíram interpretações, e, no meu caso particular, ignoraram que nunca foi aberto contra mim qualquer processo com base “quebra de decoro parlamentar” e jamais sofri condenação transitada em julgado em qualquer esfera do judiciário.
Do que me acusam? Nunca avancei sobre o patrimônio público, nunca sujei minha mão na lama onde chafurdam os corruptos que infelicitam Brasília e o Brasil. Meu patrimônio, graças a Deus, tem a marca da honradez de uma família que há mais de século nesta região fez do trabalho honesto seu meio de vida.
Os antigos “ermos e gerais” que hoje hospedam o centro dos três poderes eram fazendas de meus pais e avós, onde, menino ainda, com os mais velhos, saía para o campeio, dormindo ao relento, comendo frugalmente, como todos os sertanejos de então, enfrentando as intempéries da natureza hostil, demorando às vezes mais que semana para a volta ao lar.
Talvez, venham dessas raízes, esse apego e amor intenso por Brasília e nosso povo que me enche a alma e os sentidos, me tornando escravo do desejo de resgatá-la do caos em que se encontra, preparando-a para o futuro dos próximos 50 anos, com melhora radical na qualidade de vida de nossa gente, principalmente dos mais humildes, que sempre se constituíram na razão maior da minha vida pública.
Os elitistas chegam ao absurdo de dizerem que enchi Brasília de favelas, quando, na verdade, fiz aqui reforma urbana, erradicando favelas e dando dignidade, endereço e cidadania a centenas de milhares de famílias. De toda a imensidão de obra que construí, algumas gigantescas como a Ponte JK, o metrô e a Usina Hidrelétrica de Corumbá, a reforma urbana é a que mais me gratifica e envaidece.
Não posso mais ser candidato. Mas a eleição correrá em meu nome e o povo de Brasília me honrará, elegendo Governadora minha amada esposa, companheira de meio século, Dona Weslian Roriz, competente, honrada, humana e digna. Estarei com ela a cada minuto, da mesma forma que ela sempre esteve comigo, e foi a grande responsável pela alta dose de humanismo dos quatro períodos de governo que chefiei.
Peço ao povo que nos dê também maioria nas Câmaras Distrital e Federal, além de consagrar a eleição dos dois Senadores: Maria Abadia e Fraga. A vitória contra meus adversários me lavará a alma das injustiças que sofri, e fará com que eu não tenha que repetir o grito de revolta do grande humanista Camus: “O pior dos tormentos humanos é ser julgado sem lei.”
Mas, que bela fala! nem parece o costumeiro matuto que se dirige ao povo. Embora tenha bem se expressado e se explicado, o digno Sr. Roriz nunca explicou o caso da bezerra de ouro, e se o honrado Senhor não tivesse culpa no cartório, jamais teria renunciado, agora, espertamente deixa todo o processo judicial sobre sua candidatura chegar ao fim, já com as urnas lacradas e “renuncia à candidatura” lançando em seu lugar a esposa. É claro que foi tudo uma manobra milimetricamente calculada, tudo isso já estava previsto por ele, a decisão do Supremo também, assim, o Supremo livra a cara, Roriz não pode ser cassado e sua esposa não é mais que um boneco manipulado, onde quem vai mandar mesmo é o próprio Roriz. Isso é demais para Brasília! precisamos dar um basta nessa situação, no voto!