RIO NEGRO, 100 ANOS

Manaus/AM, 13 de novembro de 2013.

 Discurso proferido pelo Dr. Flávio Cordeiro Antony Filho na solenidade do Porto de Honra do Atlético Rio Negro Clube em homenagem a todo Conselho Diretor.

 Certa vez, aprendi com meu dileto amigo, ex-prefeito Serafim Corrêa, ao qual juntamente com meu querido primo Francisco Augusto Martins da Silva, gostaria de aproveitar a oportunidade para publicamente agradecer o incentivo e esforço dispensado à nossa Diretoria Jurídica, também representada pelo nosso Diretor Victor de Medeiros Dantas Góes, baluarte da suspensão do leilão que ocorreria no dia 08/11/2013, em prol da recuperação do Atlético Rio Negro Clube, que o orador se quiser ser ouvido e entendido, deve seguir três clássicos mandamentos:

1) FALAR DE PÉ;

2) FALAR ALTO E PAUSADAMENTE;

3) MAS SOBRETUDO FALAR POUCO, A PONTO DE NÃO DESPERTAR A IRA DOS QUE INSISTEM EM LHE OUVIR.

Pois bem, tentarei alcançar a brevidade necessária, sem me deixar levar por omissões indesejáveis.

Navegando na história, pude encontrar marcos de referência importante do clube fundado em 13 de novembro de 1913, com o nome de Athletic Rio Negro Clube, em razão da grafia inglesa que reinava na cidade nos idos do século XX.

Nascido do sonho do jovem Schinda Uchoa que ao se reunir com mais 10 amigos, na Rua Henrique Martins, nº 149, resolveram, num ato de altivez extremada, prestar uma homenagem ao rio que margeia a cidade de Manaus, o hoje Atlético Rio Negro Clube, não demorou para despontar com referencia clubística no Amazonas.

Um clube com tradição social e esportiva e que foi palco de bailes e festas memoráveis no seio da sociedade amazonense. Não a toa ganhou o code nome de “Clube Líder da Cidade”. Quem não se recorda das Segundas-Feiras Gordas, do Flavito na folia, da Turma do Lasca, do Baile Infantil dos Brotinhos, as feijoadas de sábados no Parque Aquático ou dos Bailes das Debutantes?

Poucos sabem, mas foi o Rio Negro quem instituiu a merenda escolar no Amazonas, quando em 1934 três diretores angariaram recursos e mantimentos para esparzir a merenda para os alunos da rede pública, chamando, assim, atenção dos governantes da época que então passaram a distribuí-la com periodicidade.

O Atlético Rio Negro Clube também raiou com um dos maiores, senão o maior incentivador do esporte amador de nosso estado; natação, voleibol, handebol, futebol de salão (hoje futsal), tênis de mesa, judô e jiu-jitsu, foram alguns dos esportes onde nosso clube se destacou ao longo de seu centenário.

Em relação ao jiu-jitsu temos uma peculiaridade que merece nosso registro; de acordo com o Professor Manoel Bastos Lira em sua obra “Sete Décadas de Barriga Preta”, em 1915, o Mestre Soishiro Satake (que depois se naturalizou brasileiro, passando a ser chamado de Antônio Soishiro Satake), chegou ao Amazonas e passou a praticar e ensinar Judô e Jiu-Jitsu, formando na sede do Rio Negro a primeira associação de Jiu-Jitsu do Brasil.

Naquele mesmo ano, um japonês conhecido como Conde Koma, recém chegado a Belém do Pará – aos menos esclarecidos foi o Conde Koma quem ensinou o jiu-jitsu à família Gracie – desafiou o Mestre Satake para uma peleja no Cine-Teatro Politeama. O espetáculo restou viabilizado por alguns amazonenses que estudavam medicina em Belém e teve como vencedor o “Barriga Preta” Soishiro Satake, finalizando a primeira exibição da luta japonesa em Manaus.

Com as vênias devidas as demais associações esportivas, devemos reconhecer que o Rio Negro é a equipe mais tradicional dos esportes de ginásio do nosso Estado. Apenas para citar um exemplo, como não lembrar do meu querido amigo e irmão Paulo Avelino, que nos anos 80 foi capitão da Seleção Brasileira de Vôlei que mais tarde viria a ser vice campeã Olímpica nos jogos de Los Angeles?

No futebol, temos um capítulo à parte em nossa historia. Uma relação de amor e ódio dos nossos gestores passados, não com o esporte, mas sim com a forma como o mesmo era gerido em nosso estado. Assim, ficamos mais de 14 longos anos sem participar do Campeonato Amazonense, retomando às  disputas oficiais apenas em 1960, motivado pelo grande Rionegrino Josué Claudio de Souza, tendo conquistado já no segundo ano de seu retorno, em 1962, o titulo amazonense.

Como não falar de Gilmar Popoca que chegou à Seleção Brasileira e despontou em clubes como Flamengo e Botafogo, após ser revelado em nossas categorias de base?

O fato é que no futebol, o Rio Negro viveu seu apogeu nas décadas de 70 e 80, quando conquistou ­6 títulos estaduais, incluindo um tetra campeonato de 1987-1990; venceu 1 campeonato norte-nordeste, 1 Campeonato do Norte e disputou a série A do Campeonato Brasileiro. Tempos áureos que servem de espelho para a gestão atual na busca pelo resgate do prestigio nacional de outrora.

Voltando ao lado social, jamais poderíamos olvidar de prestar uma justa homenagem a nossa eterna Miss Brasil Therezinha Morango, que representou e ainda representa a magia da mulher amazonense, galgando o posto de vice Miss Universo em 1957. Sua polidez e simpatia, resumia bem o espírito Rionegrino, soerguido sobre as colunas da Força e da Beleza.

Hoje pela manhã em sessão solene na Câmara dos Vereadores, o vereador Mitoso chamou atenção para um dado interessante do ponto de vista histórico. Manaus tem 344 anos, o Rio Negro tem 100, logo, certamente o Rio Negro confunde-se com a história da cidade. Isso, Senhores, são fatos que o tempo não é capaz de apagar.

Clube de Schinda Uchoa, Lauro Cavalcanti, Pedro Henrique Cordeiro Junior, Flavio de Castro, Aristophano Antony, Mario Verçosa, Manoel Bastos Lira, Antonio Silva dentre outros; tenho certeza de que suas memórias e inspiração ainda se mantêm cálidas neste clube. O clube Barriga Preta, o Galo Gigante do Norte, Galo Carijó, o Clube da Praça da Saudade.

Nas palavras do Ilustre Professor e Ex-Presidente Manoel Bastos Lira, o Rio Negro, senhores, desde sua fundação foi uma associação de moços realistas com ideias firmes e imarcescíveis, como bem traduz nosso Hino Social “O Colosso jamais derrotado”, de maneira que a juventude que hoje volta a esse clube integrando sua diretoria, tem o dever moral e a obrigação de honrar esses antepassados, para garantir, como vem frisando nosso atual Presidente Thales Verçosa, os próximos 100 anos, fazendo florescer novamente o orgulho de sermos Rionegrinos, o orgulho de nos reunirmos todo dia 13 de novembro em ato tão solene e de grande valia para nossas tradições.

Recentemente, fui questionado pelo meu pai, que além de amigo e mentor, é minha maior referência, tanto pessoal como profissional, o motivo pelo qual eu havia aceitado tão árdua missão, sendo eu tão novo e com tantas outras coisas com o que me preocupar, por qual razão deveria eu arrumar problemas e inimigos?

A resposta foi tão imediata, quanto o piscar dos meus olhos. Pelo simples fato papai, de ser o único neto do nossos saudosos Edail e Aristophano, que ainda não havia tido a oportunidade de fazer absolutamente nada pelo clube ao qual ambos dedicaram grande parte da sua existência.

Somente isso já me serve como incentivo capaz de responder todas as minhas eventuais indagações, bem como estímulo para os momentos mais tenebrosos difíceis.

Assim, na certeza de que essa árdua batalha está apenas no início, gostaria de aproveitar a oportunidade para conclamar a todos os sócios aqui presentes e aos ausentes que por qualquer motivo não puderam comparecer, que ajudem nosso Clube, ajudem o Rio Negro a voltar ao lugar de onde nunca deveria ter saído. Essa diretoria se encontra de braços abertos para ouvir críticas e sugestões em prol da melhoria e engrandecimento do Barriga Preta.

SALVE CLUBE RIO NEGRO,

SALVE LEAL CAMPEÃO!

 MUITO OBRIGADO!