Revolução industrial 4.0, do que se trata?

Por Osíris Silva

A quarta revolução industrial, ou 4.0 – em pleno curso mundialmente -, transcende a todas as conquistas do homem na esfera econômico-social e tecnológica. Supera em muito os efeitos da máquina a vapor que deflagrou a Revolução Industrial na Inglaterra no século XVIII. Vai além da revolução agrícola, da revolução na medicina, da biotecnologia, da nanotecnologia. Excede os extraordinários avanços do Silicon Valley no campo científico, na tecnologia da informação, da computação, da indústria eletrônica, dos supercomputadores. Instrumentos que fazem gigantes de 575 toneladas de peso máximo, carregado, como um A380, dotado de cabine de 478 metros quadrados de espaço utilizável – 40% a mais que o segundo maior avião de passageiros, o Boeing 747 -, com capacidade para até 853 passageiros, dependendo da configuração, subir aos ares com autonomia de voo de 15 mil quilômetros a velocidade cruzeiro de 900 km por hora.

“Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes”, diz Klaus Schwab, autor do livro A Quarta Revolução Industrial, publicado em 2017, que sistematizou os princípios desse processo evolutivo no campo manufatureiro. Os “novos poderes” da transformação, adianta, virão da engenharia genética e das neurotecnologias, duas áreas que parecem misteriosas e distantes para o cidadão comum.

Na concepção do Fórum, “há três razões pelas quais as transformações atuais não representam uma extensão da terceira revolução industrial, mas a chegada de uma diferente: a velocidade, o alcance e o impacto nos sistemas. A velocidade dos avanços atuais não tem precedentes na história e está interferindo quase todas as indústrias de todos os países”. A revolução acontece após três processos históricos transformadores. A primeira marcou o ritmo da produção manual à mecanizada, entre 1760 e 1830. A segunda, por volta de 1850, trouxe a eletricidade e permitiu a manufatura em massa. E a terceira aconteceu em meados do século 20, com a chegada da eletrônica, da tecnologia da informação e das telecomunicações.

No Fórum Mundial de Davos/2018 os acadêmicos mais entusiastas definiram com precisão os conteúdos fundamentais da Revolução 4.0: nanotecnologias, neurotecnologias, robôs, inteligência artificial, biotecnologia, sistemas de armazenamento de energia, drones e impressoras 3D. Teme-se a ocorrência, num primeiro momento, de fortes perdas de postos de trabalho, a parte mais controversa do processo. É de amplo domínio, contudo, que toda revolução, independentemente do campo e da abrangência, envolve riscos e custos que logo são compensados por ganhos de produtividade, emprego de melhor qualidade e remuneração mais compensadora.


Convém intuir que a Revolução 4.0 não diz respeito a ato de vontade, de um decreto governamental, da manifestação de interesse de representações de classes empresariais, da universidade, de centros de pesquisas isoladamente. É na verdade o somatório de todos esses vetores, juntos, integrados, coordenados e focados nas transformações que se processam urbi et orbi. Para tanto, requer ambiência consentânea, ou resultante, da solidez política, social, educacional, cultural e econômica de um país; igualmente, firme e consolidada estrutura científica, de pesquisa e desenvolvimento, de onde irão emergir start-ups e parques tecnológicos responsáveis pela difusão das inovações subjacentes à revolução industrial 4.0.  

Este o desafio maior da Zona Franca de Manaus no horizonte 2073, posto inevitável e impositiva sua integração a essa nova onda transformadora. Estamos preparados para tão ousados desafios? Estamos capacitados a dar o grande salto para frente, como fizeram japoneses, chineses, tigres asiáticos e as novas economias industriais europeias?