O Brasil encontra-se preso a uma teia tão extensamente pegajosa da qual dificilmente dela haverá de se livrar tão cedo. A não ser por meio de um governo aberto a inovações que se processam nos países democráticos líderes em crescimento econômico e ganhos sociais. Um governo que se comprometa ir além de paliativos e empreender reformas estruturais profundas, dentre as quais, prioritariamente, a política. Grande obstáculo para a promoção de mudanças advém exatamente do alto grau de conservadorismo sustentado por facções políticas subjugadas a estreita visão da realidade nacional.
Populistas e demagogos, restringem-se a mover-se apenas na defesa de interesses dos grupos partidários que representam. Os da nação ficam para depois. Presentemente fazem barganhas – nem sempre confessáveis – para eleger os novos presidentes da Câmara Federal e do Senado, mas não tratam, sequer mencionam, a urgência das reformas, a essência da crise nacional ou a necessidade de reestruturação da Zona Franca de Manaus e a recuperação da autonomia administrativa e financeira da Suframa.
De acordo com o Site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), há 35 partidos políticos registrados no Brasil, além de 27 siglas em fase de coleta de assinatura para registro. Dois ou três mantêm-se fieis aos princípios que nortearam sua criação. A grande maioria, atrelados às regras do jogo imperantes no Congresso Nacional, antepõe-se a toda e qualquer proposta de inovação política, econômica ou social. Apoiam o governo apenas mediante negociações subterrâneas. Por seu turno, as “esquerdas”, rendidas a fanatismos dogmáticos “fora da nova ordem mundial” padrão século XXI, ironicamente, na mesma linha da “direita”, refutam as reformas, sobretudo a política, por também não dizerem respeito a comezinhos propósitos ideológico-financeiros.
Reformas implicam mudanças nas regras de poder, nas relações econômicas e sociais; na estrutura partidária; no padrão de funcionamento de assembleias legislativas e câmaras de vereadores, das prefeituras municipais, dos sistemas educacional, da seguridade e previdência social, da saúde pública. Obriga, outrossim, a repensar o “modus operandi” da governança, a estrutura e o tamanho do Estado, enfim a concertação social, econômica e política da nação. Ocorre que, contraditoriamente, racionalização, modernização e transparência de gestão pública configuram ameaças frontais ao já depreciado capital político brasileiro. Adicionalmente, implicam subtração de cargos ocupados pela militância nem sempre dotada de formação técnica competente, que aparelha a máquina pública, sobretudo obedecendo conveniências corporativas em detrimento do mérito.
Enquanto isso, desconhece ou finge desconhecer que o Brasil se transformou numa praça de guerra, onde morrem por ano mais de 50 mil cidadãos indefesos, número superior ao da guerra da Síria.
Como empreender reformas e mudar o Brasil em tais circunstâncias? Segundo o sociólogo Chico de Oliveira, certos “intelectuais travestidos de esquerdistas, a dita esquerda caviar, leem Marx, porém não conhecem o Brasil”. Inobstante, não se mudam para Cuba, Venezuela ou Coreia do Norte. Preferem manter-se acomodados aos encantos de seus cabides empregatícios. Um cargo público aqui, uma sinecura acolá que não requer responsabilidade, trabalho ou serviço ativo; uma viagem para um congresso, ou cursos no exterior; suporte a algum projeto cultural na maioria das vezes inútil. No geral tudo pago, ressalte-se, pelos cofres públicos.
E assim la nave va… Felizmente, a operação Lava Jato, por seus juízes, procuradores, promotores e a Polícia Federal vêm tratando de repor ordem na casa. Com amplo apoio da sociedade implementa as bases da reforma moral e ética requerida pela nação como pré-condição a todas as demais. Inadiável corrigir a difusa miopia que toma conta do cenário politico nacional para poder estabelecer as bases das reformas e do crescimento.
Manaus, 30 de janeiro de 2017.