Reestimativa de receitas para 2018 permite ampliar investimento em Educação Básica nos estados mais pobres do País

OS MUNICÍPIOS DO AMAZONAS PODEM FICAR FORA

Num momento em que os recursos do FUNDEB podem aumentar a resistencia dos municípios do Amazonas em prestar contas dos recursos recebidos pode significar problemas para os atuais prefeitos.

Os orgãos de controle – TCE, TCU, MPE, MPF e CGU – precisam agir. Os professores e alunos não podem pagar por essa falta de responsabilidade.

Serafim Corrêa

Todos Pela Educação defende que recursos adicionais de R$ 4,4 bilhões sejam destinados como complementação ao Fundeb

Resumo
No processo de discussão sobre o Orçamento Federal na Câmara dos Deputados, houve uma reestimativa das receitas do Governo para 2018 em virtude da reavaliação do cenário econômico. Uma vez que a meta de resultado fiscal do Governo não sofreu alteração, a Comissão Mista de Orçamento do Congresso autorizou que esses recursos adicionais da ordem de R$ 4,4 bilhões fossem alocados exclusivamente em despesas que estão fora do limite de gastos primários estabelecido pela Emenda Constitucional nº 95/2016. Neste contexto, o Todos Pela Educação defende que esses recursos sejam destinados como complementação da União ao Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), visto que isso significaria um incremento de recursos para a Educação nos estados mais pobres do País.

Posicionamento
Na discussão sobre o Orçamento Federal na Câmara dos Deputados, o total de receitas do Governo previsto para 2018 passou recentemente por uma reestimativa, em virtude da reavaliação do cenário econômico (previsão de crescimento do PIB de 2,5% para 2018, e não mais de 2%). Com isso, há uma previsão adicional de R$ 4,9 bilhões para os cofres federais em 2018 [1]. Como a meta de resultado fiscal do Governo não foi alterada, a Comissão Mista de Orçamento do Congresso autorizou que R$ 4,4 bilhões fossem alocados apenas nas despesas que estão fora do limite de gastos primários estabelecido pela Emenda Constitucional nº 95/2016. As possibilidades para destinação desses recursos são [2] : créditos extraordinários para catástrofes ou guerras; despesas não-recorrentes da Justiça Eleitoral; aumento de capital de empresas estatais não-dependentes e/ou a complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Considerando que o cenário econômico e fiscal vivido pelo Brasil comprime as despesas do Governo Federal em Educação [3] , a importância da Educação Básica para o futuro de todos os brasileiros e as enormes iniquidades no sistema educacional de nosso País, o Todos Pela Educação endossa e defende a proposta apresentada [4] de que os R$ 4,4 bilhões em discussão sejam aplicados na complementação da União ao Fundeb em 2018, visto que esse valor seria obrigatoriamente destinado para a Educação dos estados mais pobres do País.

O Fundeb é uma política redistributiva reconhecida internacionalmente que permite elevação considerável do investimento por aluno nas redes de ensino com situação socioeconômica vulnerável. Parte importante dessa equalização é realizada pela complementação de orçamento feita pela União ao Fundeb, sempre destinada aos estados com menor valor de investimento por aluno no Brasil. Essa complementação permite, por exemplo, que o valor mínimo investido por aluno no Maranhão eleve-se em 80%. [5]

Caso esse recurso de R$ 4,4 bilhões seja de fato destinado para a complementação da União ao Fundeb, seria a primeira vez que essa complementação superaria seu valor mínimo definido por Lei. Como efeito, além dos 9 estados que já recebem a complementação da União e passariam a receber mais recursos (Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco e Piauí), os estados de Mato Grosso, Minas Gerais e Rio Grande do Norte também receberiam valores adicionais em 2018. O incremento possibilitaria que o valor anual investido por aluno nos estados mais pobres do país se elevasse em 6,7% (R$ 205,74).

Considerando o cenário brasileiro em que 14,3% das escolas de Ensino Fundamental I não têm elementos básicos de infraestrutura (como água filtrada, esgoto, energia e banheiro), e onde 46,3% das escolas não contam com biblioteca ou sala de leitura, possíveis recursos adicionais para as redes de ensino mais vulneráveis, justamente as que mais concentram desafios como o de infraestrutura, podem significar avanços importantes. É relevante, contudo, considerarmos que esses recursos são de disponibilidade eventual, ou seja, de natureza não-continuada – portanto, decorre desse fato a importância de que sejam destinados para gastos não correntes, como a adequação da infraestrutura física das escolas.

O Brasil tem a oportunidade de aplicar os recursos em discussão em uma política educacional que se comprova altamente redistributiva. É hora de se mostrar que Educação é uma prioridade nacional.

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Notas:

[1] Relatório prevê aumento de receita em R$4,9 bilhões para a União em 2018
[2] Estabelecido no § 6º do Art. 107 da Constituição Federal

[3] Do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2017 para o PLOA 2018 (ainda em tramitação), a previsão de despesas com a Educação Básica teve queda real de 9,8% (R$ 2,8 bilhões), segundo os cálculos da Consultoria de Orçamento e Finanças da Câmara dos Deputados (Conof/CD) atualizados pelo IPCA/IBGE.
[4] A proposta foi apresentada pelo consultor legislativo da Câmara dos Deputados Claudio Tanno e pelos Deputados Bacelar e Dorinha Seabra Rezende ao relator-geral do Orçamento, Deputado Cacá Leão.