À presidenta Dilma Rousseff não bastaria ser a primeira mulher a abrir uma Assembleia-Geral da ONU. Por si, o fato é de um simbolismo ímpar à questão das mulheres no Brasil e no mundo.
Mas Dilma queria e fez muito mais, ao marcar esse momento registrando a necessidade de “substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo” e afirmar que “a crise é também de governança e de coordenação política”. Hoje, ela tem autoridade e influência para sustentar esse discurso.
O mundo está de olho no Brasil. Não é de graça. “No Brasil, a classe C cresce e as pessoas abandonam a pobreza. Curiosamente, nos EUA o movimento é o inverso: as pessoas vão da classe média para a pobreza”, diz Arianna Huffington no seu “Post”, o mais lido do planeta. Continua no mesmo tom em seu livro, que fala do “fim do ‘sonho americano’- que agora está se transformando no ‘sonho brasileiro'”.
Há, portanto, ouvidos atentos às mensagens de Dilma, que nesta semana foi capa da “Newsweek” sob o sugestivo título “Onde as mulheres estão vencendo”.
Temos a líder de um novo bloco na geopolítica mundial afirmando que os emergentes estão prontos a socorrer os desenvolvidos. E, se estão prontos para isso, também querem ser mais ouvidos.
Dilma estar lá, representando-nos, é um orgulho. Mas ainda não é resposta para a desigualdade. O relatório “Igualdade de gêneros e desenvolvimento 2012”, do Banco Mundial, distribuído nesta semana, é avassalador. As pessoas ainda veem os homens como líderes políticos e econômicos melhores do que as mulheres.
As desigualdades ainda são enormes e o custo disso deve ser alto no século 21. De acordo com o Bird, a produtividade aumentaria em 25% se não houvesse discriminação de gênero no mercado de trabalho.
Se no mundo a participação feminina na política é desigual, no Brasil, é péssima. Pouco crescemos nas duas últimas décadas e nossos índices estão bem abaixo dos registrados na América Latina.
Sobre o mercado de trabalho brasileiro, o estudo mostra que os patrões ainda são os homens, também maioria entre os trabalhadores por conta própria e assalariados. As mulheres se destacam em serviços não remunerados e nos empregos informais.
Emocionei-me ao ouvir a nossa presidenta abrir a sessão da ONU, referindo-se à condição feminina e falando das mulheres que não podem se tratar das doenças, das que sofrem violência e das que passam fome e não podem dar de comer aos seus filhos. De unir a sua voz às que lutaram pela liberdade e pela democracia, como ela própria fez.
Como vemos, o momento é de alegria e de esperança, mas de muito trabalho pela frente.