Produção de alimentos no AM e as batalhas perdidas

Por Osiris Silva:

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que completou 70 anos em outubro de 2015, diante da necessidade de abastecimento da população mundial em 2050, quando o Planeta deverá alcançar 9 bilhões de habitantes, estabeleceu como meta de alta relevância aos países líderes do setor agropecuário aumentos proporcionais na  produção de alimento até meados deste século. Ao Brasil a Organização estabeleceu um aumento de sua oferta em 40%, até lá, como cota parte do desafio. Para a FAO, estimular respostas positivas no que tange à produção de alimentos e promover a segurança alimentar visando ajudar a erradicar a fome e a pobreza no mundo é um dos mais arrojados desafios do século XXI.

Hoje, 800 milhões de pessoas ainda passam fome no Planeta. Neste contexto, mesmo em um cenário de crise econômica, o Brasil é protagonistas do processo na condição de um dos principais fornecedores mundiais. Efetivamente, um dos poucos países em condições de ampliar a oferta de forma sustentável, ou seja, sem precisar desmatar novas áreas graças a tecnologias de produção aqui desenvolvidas. Segurança alimentar e conectividade do produtor rural brasileiro convergem com os objetivos da FAO dado os altos níveis de performance da agropecuária brasileira. De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) o Brasil não terá a menor dificuldade de fazer frente ao repto da FAO.

Segundo a CNA, nossa agropecuária tem condições de expandir não apenas 40%, mas 70%, de acordo com a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Kátia Abreu. Na avaliação do representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, o exemplo brasileiro deve ser seguido pelo resto do mundo. Ele ressaltou ser “possível trabalhar para erradicar a fome e a pobreza, desde que esses dois temas façam parte da agenda prioritária dos governos para melhorar a qualidade de vida no campo”.

Para superar as metas determinadas pela FAO um fator fundamental deve ser distinguido: o fortalecimento da pesquisa, desenvolvimento e inovação. É certo que o Brasil, por meio da extraordinária performance da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) é referência mundial em tecnologia e inovação na agricultura. Instituições sólidas e um contingente de pesquisadores dão a vida para que o Brasil venha mantendo o status de um de um dos líderes mundiais na produção de alimentos.

O Brasil, por outro lado, constitui exemplo no que tange à preservação ambiental e à produção sustentável. O país, dotado por uma das mais rigorosas legislações ambientais do mundo, o Código Florestal, dispõe de amplas condições de elevar a produção de alimentos sem abrir novas áreas. Simplesmente aumentando a produtividade, produzindo mais no mesmo espaço com o emprego de tecnologias adequadas e específicas a cadeias produtivas, que possibilitam, a certas regiões produzir até três safras no mesmo ano.

O Amazonas, face ao desbalanceamento estrutural da Zona Franca de Manaus (ZFM), está fora das fronteiras agrícolas do Brasil, novas ou velhas. Alega-se que o Estado detém 98% de florestas protegidas. A questão, presumivelmente assim se apresenta: o que a população amazonense ganha em resultado de tamanha magnanimidade? Quais as reais e concretas vantagens de tal desprendimento? O Amazonas, conforme irei analisar nas próximas semanas vem perdendo batalhas atrás de batalhas em relação ao setor agropecuário. Perdemos, ao longo da história a da borracha, da produção sustentável de madeira, da piscicultura, da mandioca, da fruticultura, da avicultura, do cacau, do guaraná, e deveremos perder também, se não acordarmos a tempo, a da biodiversidade. Numa conjuntura de grave crise como a que hoje a travessa o país, como compensar o tombo da produção industrial e de serviços, os impactos negativos na geração de emprego e renda sem a contrapartida do setor primário? As conclusões são óbvias.