A pouco mais de dois meses para o primeiro turno das eleições presidenciais de 2010, reitero minha expectativa de que, acima de tudo, nesse processo de reflexão sobre os rumos do nosso Brasil, prevaleça um debate sério, profundo e exclusivamente voltado à discussão programática. Porque essa é a melhor forma de os candidatos se submeterem de fato ao julgamento de cada brasileiro, fazendo das eleições o verdadeiro ápice da democracia.
Mas tem me preocupado dois movimentos paralelos, e intercalados, que tenho presenciado. O primeiro é o rebaixamento do nível do debate eleitoral pela oposição. O segundo é o de preparar o terreno para jogar a decisão das urnas nas mãos do Judiciário. Ambos representam riscos à democracia.
A oposição demo-tucana, que José Serra como candidato, tem se desviado do caminho do bom debate. A escolha por baixar o nível está evidente nas falsas denúncias, nas acusações levianas e nos discursos tomados pelo tom de medo e terror. Entre as afirmações estapafúrdias está o cúmulo de dizer que a candidata Dilma Rousseff está doente. Mas há também artilharia contra o PT, vítima de acusação, sem base ou fundamento, de ter ligação com as Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e com o narcotráfico.
Toda eleição usam desse mesmo expediente quando estão em desvantagem nas pesquisas: acusam o PT para tentar transformá-lo no “partido mau”. Acontece que as pessoas já conhecem o PT e sabem como tem sido o Governo Lula. E isso faz a diferença, porque o discurso do medo não encontra mais respaldo na sociedade: as pessoas querem debater propostas e como fazer para continuar mudando o Brasil.
Aí reside o problema da oposição. O eleitor está confrontando Lula com FHC, Serra com Dilma. E está vendo que Dilma é melhor opção, que tem as melhores propostas e que reúne as condições para seguir o trabalho iniciado no Governo Lula. Sem propostas e adotando uma campanha de acusações sem provas, a oposição acirra ainda mais esse processo e passa a atacar mais e mais. Foge do debate programático.
Assumindo de vez que a campanha de Serra não tem saída, a oposição passa a apelar para os escândalos e a baixaria, ficando sem saber como enfrentar a popularidade do presidente e do governo. A perspectiva de derrota parece ter levado a um caminho sem volta: preparar uma campanha de baixo nível e tentar virar o jogo no tapetão.
Nessa estratégia, acusam o presidente Lula de usar a máquina pública para fazer campanha para Dilma. E a base dessa acusação é Lula declarar que vota em Dilma porque ela teve participação decisiva em seu governo, ao lançar programas como o “Minha Casa, Minha Vida”, o “Luz para Todos” e o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), além de coordenar iniciativas como o Bolsa Família.
Ora, mas isso é a verdade! Então o presidente Lula não pode dizer em quem irá votar e por quê? Então quando o governo é bom a população não tem o direito de saber quais as pessoas que dele participaram? Isso, sim, é um verdadeiro ataque à democracia e ao direito de informação.
É preciso que a oposição dê início a um freio de arrumação em sua campanha, para elevar o debate e deixar de lado o discurso do medo, do terror e das ofensas. É assim que se constrói uma eleição limpa, pois não deixaremos sem resposta as calúnias que nos tem sido dirigidas.
Judicializar a campanha não é o caminho. Porque o povo brasileiro, a democracia e o bom ambiente político nacional exigem que a decisão das urnas seja respeitada.
José Dirceu, 64, é advogado e ex-ministro da Casa Civil