Política que passa como herança de pai para filho

Do EM TEMPO, por Henderson Martins:


Para Serafim Corrêa, numa família onde tem um político a tendência é que mais alguém se interesse na politica, e que no caso do Marcelo, foi contra a vontade da mãe - foto: Ricardo OliveiraPara Serafim Corrêa, numa família onde tem um político a tendência é que mais alguém se interesse na politica, e que no caso do Marcelo, foi contra a vontade da mãe – foto: Ricardo Oliveira

Quando pequenos, todos pensam em seguir o caminho dos pais, e para eles, que cresceram num ambiente em que a política era assunto comum nas rodas de conversas, inclusive à mesa, se tornou uma realização pessoal. Influenciados ou não, acabaram seguindo os mesmos passos de seus pais e antepassados. Exemplos concretos são jovens políticos que ingressaram na carreira política, se tornando vereadores, deputados, e alguns pensam, inclusive, em alçar voos mais altos rumo a um cargo majoritário.

A trajetória do deputado estadual Josué Neto (PSD) não é tão diferente de outras histórias de crianças que têm o pai como herói. Hoje presidente do Poder Legislativo estadual, ele revela que o fato de acompanhar o pai, Josué Filho, que preside o Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM), durante sua infância e adolescência, em sua rotina política acabou influenciando bastante em sua decisão de adotar este mesmo caminho em sua vida.
O parlamentar relembra que seus primeiros passos na carreira política iniciaram muito cedo, quando ainda trabalhava na rádio da família, participando dos eventos, tendo acesso ao público, se envolvendo nos momentos sociais e nos movimentos estudantis. Segundo ele, esses fatores foram fazendo com que se aproximasse deste mundo político, levando-o naturalmente para a política partidária. “Isso não surgiu num determinado dia. Veio surgindo desde minha infância”, contou.
“Eu sempre acompanhei meu pai. Não só nos eventos públicos, como durante a atuação política dele. Mas em casa sempre teve a presença de grandes lideranças políticas. Os deputados frequentavam minha casa e eu tinha contato com eles, conversava com eles. Fui acompanhando, e isso foi surgindo naturalmente. A política é algo normal, como em todos os casos, onde há influência entre pai e filho, onde as crianças acham que seus pais são heróis”, acrescentou o deputado.
Ele revela que tem em seu pai um conselheiro para diversos temas e situações. “Pai é pai e, como todo pai, acredita que os filhos devam receber conselho em qualquer idade”, disse. “A relação com meu pai é a melhor possível. Ele já chegou a votar em um candidato que eu não estava apoiando e isso não interferiu em nada em nossa relação. Ao contrário, temos diálogo, uma compreensão. Sempre procuro receber conselhos de pessoas mais experientes e meu pai é exemplo disso”, afirmou Neto.
Também oriundo de uma família com várias gerações de políticos, o prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), conta que veio de um período em que se enfrentou um regime autoritário, e que teve essa influência da família, o que acabou sendo um ingrediente a mais para “engatar” neste caminho.
O prefeito conta que seu maior sonho na época de universitário era ser diplomata e seguir a carreira acadêmica. Pensou até em ir para o México, fazer doutorado, mas desde aquela época as pessoas já viam nele a influência de ter um pai político.
“Eu tive um professor de história quando estudava diplomacia e ele dizia que eu nunca iria ser diplomata. Segundo ele, eu sempre falava e escrevia como se estivesse inaugurando uma estátua, como um cara que sempre tem opinião. Aí disse que eu iria seguir o caminho do meu pai, num momento que eu estava decidido a não seguir. Eu pensava em fazer uma carreira acadêmica. Queria fazer doutoramento em sociologia do desenvolvimento no México. Esse era meu grande sonho, e a vida acabou pegando outros rumos”, conta Arthur. O pai do prefeito, Arthur Virgílio Filho, foi deputado estadual,
federal e senador.
E essa influência não parou por aí. Filho mais velho do prefeito, o hoje deputado federal Arthur Bisneto (PSDB) também não demorou a seguir os mesmos passos da família. Sua trajetória iniciou muito cedo. Aos 21 anos, Bisneto foi eleito vereador de Manaus e, desde então, há 15 anos, sua carreira foi ascendendo: foi eleito deputado estadual e, ano passado, arriscou um passo maior, uma vaga na Câmara Federal, onde já estiveram seu avô e seu pai, num passado
não tão distante.
“O Bisneto é neto de um grande parlamentar, do senador Arthur Virgílio Filho, que sempre respirou política, e as visitas na minha casa foram de pessoas ligadas à vida pública. E ele sempre teve facilidade de expressão, tem jeito para articulação, em seu primeiro mandato federal já é o vice-líder da oposição na Câmara”, disse, orgulhoso, o prefeito
de Manaus.
Arthur Neto afirma que troca muitas ideias com o filho deputado federal, mas que tem outros três filhos que, segundo ele, não pensam em seguir a carreira na política. “Apenas o Bisneto tem vocação para ser político. Ele sempre pede opinião e opino. Mas, às vezes ele não pede e eu opino da mesma forma”, disse.
“Ele me tem como um companheirão que viveu mais coisas. Se pudermos chamar isso de conselho, eu falei para ele o que meu pai me falou na época. Disse a ele que, quando chegasse lá (Brasília), que deveria deixar a primeira impressão no início, por que quem não entrega o cartão de visita logo no início, a casa fica menos interessada em receber esse cartão depois, e é discurso mesmo”, ressalta Arthur Neto.

‘Quero ser prefeito’

História parecida também se repete na família Serafim. Aguerrido na carreira política, o vereador Marcelo Serafim, filho do ex-prefeito e deputado estadual, Serafim Corrêa, ambos do PSB, não vê a política como brincadeira. Ele, inclusive, sonha em se tornar prefeito de Manaus, assim como seu pai foi um dia.

“Quando eu era muito pequeno e meu pai foi candidato em 1986, a vice-governador, eu o vi chegar com meu avô e contar, eu estava perto dele, meu avô não queria de forma alguma que ele entrasse na política. Meu pai dizia que não podia ficar parado como estava, pois isso faria com que não mudasse o futuro, não dele ou dos filhos dele, mas da sociedade como um todo”, relembra Marcelo.

Entretanto, mesmo respirando política em casa e tendo um pai envolvido com as questões partidárias, Marcelo Serafim disse que, a princípio, seu pai foi contrário ao seu desejo. Segundo o vereador, seu pai sonhava ver o filho advogado ou economista. Mas, ele seformou farmacêutico.

Marcelo conta que tudo que faz ou as decisões que toma conversa com pai, e afirma ainda que é um luxo ter um homem como Serafim Corrêa sendo seu pai. “A pessoa inteligente aprende com o erro dos outros. E eu aprendo muito com tudo que meu pai já passou para não seguir pelos mesmos erros. Quando há dúvidas, a palavra dele sempre tem que prevalecer porque ele é muito mais experiente”, enalteceu Marcelo.

Para Serafim Corrêa, numa família onde tem um político a tendência é que mais alguém se interesse na politica, e que no caso do Marcelo, foi contra a vontade da mãe. “Eu sendo político, não posso criticar ninguém, muito menos o meu filho por querer participar da política, até porque eu acho que nós só vamos melhorar a política quando mais pessoas participarem. Não cabe mais aquele discurso de que política é coisa ruim”, disse.

Serafim afirma que é muito bom ter pessoas novas na política e fica feliz de ter um filho nesta carreira. “Eu sempre converso com ele, trocamos ideias. Nem sempre concordamos. Em casa separamos as coisas, a relação familiar, a relação de pai para filho é uma coisa, na política a relação é de companheiros”, disse. Ele acrescentou que, em certos momentos, quando necessário, dá um puxão de orelha no filho.

Marcelo Serafim afirma que pretende trilhar o mesmo caminho do pai, e um dia chegar ao cargo majoritário, mas que na política não tem que se precipitar, e que todas as coisas acontecem no seu tempo. Segundo ele, pretende esperar o seu tempo.