Plano B, temos um?

Por Osíris Silva:

A situação da economia brasileira alcançou níveis intoleráveis. Fruto, fundamentalmente, de políticas econômicas confusas, em que o privado se confunde com o público e o social levado de roldão pela forma mais rasteira de populismo inconsequente, superado ideologicamente e, portanto, improdutivo. Churchill dizia que um político só se tornará estadista quando deixar de pensar apenas nas próximas eleições e passar a se preocupar com o futuro do país. Não é o que, lamentavelmente, ocorre no Brasil. O quadro político e institucional chegou a tão elevado nível de degradação que a população, atônita, sente-se ludibriada, confusa.

Desacreditada, a estrutura de poder e da gestão pública perdeu eficácia e confiabilidade. E assim o Brasil travou. O País está sem rumo, um batelão em meio à procela. Raríssimos setores apresentam resultados positivos. As contas públicas, envoltas em absurdas “pedaladas fiscais” vão fechar o ano com déficit operacional superior a R$ 60 bilhões; o setor de serviços, que corresponde a 60% da economia nacional caiu 3,5% agora em setembro, e o da indústria 7%. A taxa de desemprego chegou aos 9%, enquanto a inadimplência (contas vencidas e não quitadas), em consequência, afeta cerca de 40% da população adulta. Dólar a R$ 4,00, inflação medida pelo IPCA na casa dos 9,75%, afinal, com coeficientes macroeconômicos assim tão deteriorados e desfavoráveis em que e em quem acreditar?

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por outro lado, reduziu as previsões de crescimento mundial para 2015 e 2016. Ao mesmo tempo advertiu governo e mercado sobre o forte retrocesso da economia do Brasil e as incertezas na China. A OCDE estimou em junho que a economia brasileira recuaria 0,8% em 2015 e em setembro, em nova pesquisa, apontou retração de 2,8%. Para 2016, a expectativa oscilou de uma alta de 1,1% para uma queda de 0,7%. Em 2014, o PIB brasileiro subiu pífios 0,1%.  Economistas que atuam no mercado financeiro brasileiro, segundo o mais recente boletim Focus do Banco Central, apostam numa retração para 2015 de 2,5% do PIB. Confirmado, será o pior resultado em 25 anos, ou seja, desde 1990 – quando foi registrada uma queda de 4,35%.

Na Zona Franca de Manaus, por reflexa à economia nacional, o quadro vem se deteriorando abruptamente. Segundo os Indicadores do PIM (Polo Industrial de Manaus) divulgados pela SUFRAMA, as importações de insumos (componentes, partes e peças) registraram queda 25,46% de janeiro a junho de 2015 em comparação ao mesmo período de 2014. No mesmo espaço de tempo o número de empregados contraiu de 113,86 mil em dezembro de 2014 para cerca de 99,0 mil em setembro passado, enquanto o faturamento despencou 20,81%.

Registre-se a propósito que, em termos comparativos, os setores “Bens de Informática” e “Eletroeletrônicos” correspondem, respectivamente, a 16,17% e 29,76% do total do faturamento do PIM. Chamo a atenção sobre o dano catastrófico que poderá causar à ZFM e à economia do estado do Amazonas se, ou quando, grande parte dos bens do setor eletroeletrônico (como TV, cinescópio, monitores, equipamentos de som) vierem, como certamente virão a ser definitivamente reconhecidos como bens de informática.  Um desastre total comparável à debâcle do período áureo da borracha, eventualidade em que, na época, como hoje, poucos acreditavam.

Qual o maior risco? Não termos um Plano B com alternativas compensatórias à economia estadual baseado no desenvolvimento do setor primário e nas múltiplas possibilidades oferecidas pela biodiversidade da Amazônia e o ecoturismo. Diante da gravidade do quadro, entretanto, significativa maioria dos que aqui detêm poder de mando logo se colocam na defensiva argumentando que, para explorar aqueles ramos de negócio há necessidade de promover grandes volumes de investimentos em pesquisas. Evidentemente, sem pesquisa, desenvolvimento e inovação não se produz um pé de couve ou um ovo de galinha, uma bicicleta ou um telefone. Longo, árduo, espinhoso ou não, o caminho, porém, é esse. Atroz “point of no return”.