Por Osíris Silva
“He who fails to plan plans to fail”. A emblemática frase de Winston Churchill significa, em tradução livre, algo como “quem fracassa ao planejar, planeja fracassar”. Churchill é vastamente conhecido por haver liderado o Reino Unido durante, indiscutivelmente, um dos mais duros períodos de sua história. Com o país submetido a pesados bombardeios alemães durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o estadista conduziu com sabedoria o governo e o povo na resistência, repelindo as forças inimigas. Ao prometer apenas “sangue, suor e lágrimas” levou a Inglaterra à vitória, sendo considerado pelo povo inglês, Aliados e historiadores um líder forte, determinado, incansável, um vencedor.
Mas, o que isso tem hoje a ver com os negócios privados, as finanças governamentais e as habilidades sobre planejar para o futuro? Francamente falando, tudo. Não é desprovida de sentido a convicção, na atividade empresarial ou no serviço público, de que, efetivamente, quem falha no planejamento inevitavelmente inicia processo sem volta rumo ao fracasso. A experiência mundial assegura a validade e eficácia do axioma. Como a afirmativa de Churchill sugere, questões econômicas exigem e devem sempre manter-se atualizadas em quaisquer aspectos que lhe sejam inerentes: contábeis, financeiros, gerenciais, comerciais, logística de transporte, alternativas mercadológicas, relações internacionais, formação bruta de capital (fbk), prioridades sobre investimentos ajustados às vocações geoeconômicas.
O Amazonas e a Zona Franca de Manaus vivem hoje, substantivamente, momento crucial, árduo e
de extrema complexidade. Nessa perspectiva, depara-se com agudas tormentas resultantes de uma crise econômica nacional sem precedente. Ocasionada, essencialmente por atos de irresponsabilidade no gerenciamento das contas públicas do país e na ausência de planos para navegar em mar revolto e resistir aos impactos de fortes e decisivas transformações que vêm se processando no mundo. Referimo-me, concretamente, aos desafios impostos à sociedade contemporânea pela Revolução Industrial 4.0 em curso.
Novas tecnologias e rápidas mudanças de perfil gerencial, comercial e nas relações políticas no plano interno e internacional constituem o cerne, o vetor de maior importância convergente sobre as forças indutoras e catalizadoras do ritmo de crescimento do Estado e da ZFM. O Brasil, e o Amazonas, em particular, precisam e devem, sem vacilo e imediatamente meditar em busca de soluções alternativas. Não há dúvidas de que o novo eixo de transformações de nossa economia está fundamentalmente interrelacionado à expansão das cadeias produtivas do Pólo Industrial de Manaus (PIM). Processo que exige inteligência, pessoal qualificado, gestão e seletivos investimentos em infraestrutura, logística e tecnologias avançadas.
Mas, como acompanhar a nova onda quando o governo descarta o sistema de planejamento, na contramão dos novos tempos? Sem qualquer dúvida, o futuro desta terra está perfeitamente delineado. Seu alicerce: a expansão da matriz econômica, no horizonte 2073, via incorporação ao PIM de novas cadeias produtivas derivadas da bio-economia, do ecoturismo e dos recursos minerais, explorados seletiva, racional e sustentavelmente. Dádivas preciosas da natureza, exigem, no entanto, exploração rigidamente empresarial, sem interferências políticas.
Como Manaus concentra 95% das atividades econômicas do Estado, não há margem para tergiversações sobre os novos caminhos a trilhar. Governo e sociedade, universidades e centros de pesquisa e desenvolvimento, classes políticas e empresariais, estudantes e sindicatos têm o dever de lutar por novas e transcendentais conquistas, buscando corrigir os graves erros que se cristalizaram desde a criação da ZFM em 1967. Todavia, em estado de extrema carência de lideranças e políticas públicas adequadas e sem saber que cenários se esboçam à nossa frente, como observa, por e-mail, o professor de Economia José Alberto Machado, tornamo-nos nau sem rumo.