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Por Marta Suplicy

Estou lendo um livro sobre Dilma, “A vida quer é coragem”, que ganhei no Natal. Não esperava muitas surpresas, mas estou tendo.

Que nossa presidenta tem qualidades que aprecio, como discrição e amizade, eu já descobrira na campanha. Neste ano, também me dei conta de que, ao contrário do que diziam, ela é da política. E o livro está mostrando o como e o porquê disso.

Interessada, estudiosa e indignada, Dilma exerceu o papel de analista política dos jornais, quando no PDT. Suas análises, por determinação de Brizola, passaram a ser enviadas para os parlamentares do partido, visando dar direção e unidade aos pronunciamentos.

O livro desenha uma jovem determinada, forjada na luta contra a ditadura, na adaptação à transição democrática e o caminho para a área mais gerencial. Por que essa escolha longe de disputa eleitoral? Oportunidade? Preferência? Não fica claro.

Digamos que seja destino. Esse mesmo destino que a levou a trabalhar e se tornar a grande parceira de Lula e ser eleita a primeira presidenta do Brasil. Lembro da primeira reunião no Torto, à qual compareci como prefeita de São Paulo.

Discutia-se a formação do ministério. Eu insistia na nomeação do meu secretário de finanças, João Sayad, e no aumento no número de mulheres na Esplanada.

Por que não aquela do Sul, que trabalha com Olívio Dutra, e da qual falam tão bem? À primeira sugestão, não deram a menor bola, com razão, e à segunda, Lula já havia decidido quando ela foi na primeira reunião com os craques de energia e deu um show. O resto é história.

O interessante na política é que o jogo jogado não acaba nunca. Um amigo antigo me dizia sobre o ser humano: “Não há o que não haja, Marta”. Eu hoje digo que a política é o palco onde atores se criam e se reinventam e a cortina abre e fecha como em nenhuma outra área.

Alguns começam a atuar mais cedo do que o comum. Os scripts não são seguidos, os aplausos, às vezes, não duram e muitas vezes a falta de um consagra o outro. Mas, acima de tudo, é preciso sempre ter coragem.

A timoneira do Planalto, para desespero da oposição, está se saindo muito bem, conquistando até os que não votaram nela. Deu conta de todas as intempéries políticas (o povo entendendo seus limites) e tomou as medidas necessárias para enfrentar a crise internacional. As prioridades continuam no social e o que foi lançado pelo Executivo e o que foi votado no Congresso prometem um ano no qual sua agenda começará a acontecer.

Que o Ano Novo de todos nós seja aquele, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, que ainda cochila e espera dentro de cada um dos brasileiros. Feliz 2012!