Pesca, gestão e piscicultura

Pesca, gestão e piscicultura

 

Alfredo MR Lopes (*) alfredo.lopes@uol.com.br

A aquicultura começa a ocupar espaço na mídia, na economia e no jargão político, deixando o cidadão frequentemente desinformado sobre o alcance e significados dos meandros dessa atividade. Desafiadas pela demanda incessante do mercado global de alimentos, as previsões do consumo de pescados já ultrapassam os 20 kg por habitante por ano, com produção estimada de mais de 160 milhões de toneladas , de acordo com a FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations, 2013).  Um negócio extremamente promissor. No Amazonas, campeão nacional de consumo per capta, ainda não conseguimos estabelecer a diferença entre pesca tradicional/extrativa e produção extensiva de peixes, a piscicultura, seus custos, demandas e premissas de infraestrutura para consolidar essa matriz econômica. Ainda vai demorar a transformação da gastronomia singular e irresistível do consumo de peixes numa atividade econômica organizada e promissora. Alguns passos, porém, precisam ser dados, a começar pela divulgação e articulação transparente de informações comprovadas.

Apesar da recorrência temática o assunto padece de objetividade e sistematização em todos os níveis. Não há informação confiável a respeito do monitoramento da pesca sazonal, cujas  entidades deram amplo espaço ao proselitismo eleitoreiro. Em 2010, segundo o IBGE, 585 mil pescadores receberam o seguro-defeso, apesar do Censo registrar apenas 275 mil pescadores artesanais em atividade. Em janeiro último, foram flagrados mais nos 300 mil credenciamentos falsos. Por isso, e por absoluta inépcia no trato da questão, é consenso que a quantidade de pescado no setor esteja diminuindo. Hoje, as câmaras municipais do interior amazônico são também escritórios de registros dessa modalidade de bolsa para pescadores que jamais seguraram o caniço. Alardeamos promover a aquicultura, na perspectiva de uma cadeia organizada, mas ainda somos incapazes de organizar a atividade pesqueira, racionalizar a safra, regular estoques e o aproveitamento integral das espécies, para alimentos e outras cadeias relacionadas. O pesquisador do Inpa, Efrem Ferreira, destaca a necessidade de ordenar a pesca artesanal, pois dela dependem os segmentos mais desfavorecidos do extrato social. Piscicultura é atividade diferenciada para os segmentos mais aquinhoados, pois peixe de cativeiro é caro. E continuará caro na medida em que as cadeias produtivas não estiverem consolidadas por uma agricultura consolidada para ração de baixo custo, com energia barata, infraestrutura de transportes e proximidade do mercado. Paralelamente, o pesquisador recomenda investimentos em inovação tecnológica ajustados às espécies e condições climáticas e culturais regionais e uma rede de informações já consolidadas e acessíveis aos interessados.

Truta, salmão, tilápia, tambaqui… são espécies consagradas porque responderam até aqui ao conjunto dessas recomendações, lembrando sempre que o Nordeste padece escassez de água mas consolidou a criação de tilápias em cativeiro. Variedade de espécies, dimensões imensas do espelho d’água na Amazônia, entre outras megalomanias não são garantias nem saídas factíveis de uma vocação da Amazônia para produzir e exportar peixes, sobretudo enquanto perdurar a desarticulação entre pesquisa e mercado, entre intervenção política – aqui entendida como transformação da atividade produtiva em fabricação de sufrágios para o imediatismo do jogo eleitoral – e produção pra valer. Estamos, pois, devendo transparência, emergência e didatismo na informação, para degustar o sabor e os benefícios dessa deliciosa economia.

(*) Alfredo é filósofo e ensaísta.