Perspectivas da economia brasileira para 2021

Perspectivas da economia brasileira para 2021

Osíris M. Araújo da Silva

 

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) admite que, em função da deterioração fiscal causada pela pandemia do Covid-19, a dívida bruta do governo geral (DBGG) em proporção do PIB aumente de 75,8% no final de 2019 para 93,7% no fechamento de 2020. Mesmo que as medidas emergenciais não se estendam além do ano que findou, a crise também acirra os desafios fiscais do país, que dela sairá com uma dívida pública muito mais alta, e níveis de produção e arrecadação relativamente mais baixos. Logo, o esforço fiscal em curso terá de ser ainda mais reforçado visando reafirmar o compromisso com o equilíbrio das contas do Tesouro e com uma trajetória sustentável para a dívida pública. Iniciativas tais, saliente-se, que afetam profundamente a trajetória esperada para a economia brasileira ao longo deste e do próximo ano de 2021.

 

Todavia, ainda persiste elevado grau de incerteza quanto ao ritmo de disseminação do SARS-Cov-2 e à magnitude e extensão das medidas de isolamento social requeridas para atenuar os impactos adversos sobre a população. Não há dúvida, porém, de que o PIB brasileiro sofrerá uma forte queda este ano. Como, segundo o documento do Ipea, os efeitos da pandemia ainda estão longe de serem superados, a economia mundial terá que assegurar estímulos fiscais e subsídios financeiros para poder crescer. “Um dos principais desafios é aumentar a demanda doméstica, fortalecer o mercado de trabalho que segue enfraquecido, pois o nível de emprego  vem se deteriorando e o poder de consumo está se reduzindo”. Agregados  que poderão impactar negativamente o desempenho da economia brasileira, e, certamente, da Zona Franca de Manaus, a ponta da cadeia produtiva.

 

Dependendo da eficácia das medidas adotadas, a tendência plausível é de recuperação das perdas sofridas em 2020.  Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em balanço divulgado em dezembro passado, “o desafio é a transição da retomada para o crescimento sustentado já em 2021”.  Mais do que nunca, enfatiza o documento, “o país precisa eliminar o ‘custo Brasil’ e avançar nas reformas estruturais, entre elas a tributária e a administrativa, e nas privatizações. Com efeito, estimular mecanismos de atração de investimentos em infraestrutura por meio da modernização dos marcos regulatórios baseados em segurança jurídica e respeito aos contratos.

Para se ter uma ideia do estrago provocado pela pandemia, o setor público brasileiro consolidado, incluindo os governos federal, estaduais e suas estatais, deve registrar um déficit primário de R$ 789 bilhões, ou 10,93% do PIB em 2020. Assim, as despesas públicas, ampliadas em decorrência das medidas de contenção dos efeitos danosos do Covid-19, superaram em muito as receitas, enquanto a dívida bruta deverá alcançar 92,8% do PIB. A previsão otimista do mercado para 2021, com a economia escoimada dos efeitos nocivos da pandemia, indica que o déficit público consolidado poderá reduzir-se a R$ 192 bilhões. O desemprego, contudo, deverá ainda manter-se no patamar de 14,6%, superior à taxa projetada para 2020, de 13,9%.

Quanto ao agronegócio, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), deve fechar 2020 com um crescimento de 9%. Desta forma, o PIB do setor deverá chegar a R$1,75 trilhão. O balanço da CNA reconhece que o auxílio emergencial federal durante a pandemia, de R$ 322 bilhões, dez vezes superior ao Bolsa Família, de R$ 33 bilhões por ano, se reverteu em compras de alimentos, em itens básicos da cesta básica. Sem ele, ao que projeta a CNA, em 2021 o crescimento do setor poderá não ultrapassar 3% do PIB.

 

Quanto ao comportamento da economia amazonense, inclusive a ZFM, dependerá de que as medidas em curso no plano nacional produzam os efeitos desejados, e que o governo estadual fortaleça políticas públicas e reforce os estímulos a investimentos visando a consolidação da matriz econômica ampliada pela bioeconomia. Por isso, resta-nos torcer para que as mazelas do ano findo se revertam em 2021.