Os papais noéis presentes nas lojas nesta época de festas me lembram um filme antigo: a história de um velhinho meio aluado, mas de uma bondade enorme, que reunia as crianças mais pobres para contar-lhes histórias de Natal.
Um dia, ele foi convidado por uma loja em Nova York para ser Papai Noel e a loja ficou cheia de fregueses. As outras grandes lojas da cidade disputaram o velhinho a qualquer preço. E isso foi parar na polícia. O velhinho foi levado a julgamento por pregar verdades que eram falsas: Papai Noel não existia.
Seu advogado, emocionado, queria defendê-lo a qualquer preço e de graça. Para mostrar que Papai Noel existia, foi aos Correios juntar todas as cartas dirigidas ao Papai Noel por centenas de milhares de crianças do país.
E a cena mais engraçada do filme era ver a cara do juiz recebendo sacos enormes, com milhares e milhares de cartas vindas do país inteiro, e que chegavam sem parar. Ele ficou tão apavorado que resolveu dar uma sentença a favor do velhinho, dizendo que Papai Noel existia.
Sim, Papai Noel existe. Mas não nessa existência material da vida cotidiana. Ele existe num nível muito mais profundo da nossa psique. É um dos mitos mais importantes da humanidade. Ele está no inconsciente coletivo como todos os outros grandes mitos: o do herói salvador, a grande mãe, as bruxas e as fadas, entre outros.
Nos primórdios de sua existência, ainda mal separada da mãe, a criança vive num sonho e onipotência. E é esse sonho que a impulsiona. Freud tinha como concepção que as únicas realidades que podiam nos dar uma alegria genuína eram as da realização desses sonhos do período infantil, principalmente quando realizados na vida adulta.
Sim, Papai Noel e os grandes mitos de todos os tempos são os primeiros motores que fazem a nossa psique ter força para buscar o sonho enquanto se enfrenta uma realidade hostil. A humanidade não pode viver sem mitos e são vários os livros explicando o êxito das mesmas histórias em épocas que transcendem séculos. Os temores que são ultrapassados com a valentia dos heróis, a fragilidade transposta pelo êxito da heroína…
Muitos dos nossos sentimentos foram elaborados e superados através dos mitos que tínhamos como companheiros na nossa infância e que sobrevivem com outra roupagem no decorrer da vida adulta. Muitas vezes, eles ainda iluminam a nossa vida.
E é esse espírito que podemos recuperar em alguns momentos, como no Natal. Hora de deixar de lado as crises econômicas, a maldade e tudo mais de agressivo ou triste que faz parte da trama do cotidiano de uma vida adulta.
Feliz Natal! Recupere os seus sonhos.