O correspondente do jornal espanhol “El País”, Juan Arias, está indignado com os brasileiros porque eles não vão às ruas para manifestar a sua indignação contra a corrupção.
A indignação, como se sabe, é um movimento da moda. Dizem que é filho dileto das redes sociais. Substitui o modo tradicional de fazer política através dos partidos ou dos “movimentos sociais” (que na verdade são segmentos sublocados de militância partidária mal disfarçada, pelo menos aqui no Brasil ), por uma forma genérica de protesto que consiste em acampar em praças e fazer manifestações em logradouros públicos com objetivos finais ainda pouco claros.
Seria a indignação que derrubou Mubarak no Egito, que tenta derrubar ditadores sírios, líbios, iemenitas e assemelhados.
Parente dessa indignação é a das praças da Espanha e da Grécia, onde se liquefaz a influência dos partidos e onde o prestígio da democracia é corroído pelos programas de arrocho e pela expansão do desemprego provocado pelos amargos remédios usados para curar as mazelas provocadas pela irresponsabilidade fiscal.
O uso de veneno para combater veneno é a fórmula mais eficaz para semear a indignação.
Como costuma acontecer com movimentos genéricos de protesto que nascem órfãos de ideologias sistematizadas, há centenas de padrastos querendo adotá-los, pregar-lhes etiquetas e fornecer-lhe fraldas e mamadeiras ideológicas.
Como se supõe que eles estejam protestando contra o que está aí e queiram substituir o status quo por qualquer outra coisa, os fornecedores de receitas mágicas sempre têm pronto no bolso do colete um modelito de socialismozinho prêt-a-porter para oferecer como panacéia para curar a indignação.
Os indignados até agora não deram mostras de querer incluir entre as suas aspirações a adesão cega às utopias regressivas que já fracassaram em sua missão de estabelecer o paraíso na terra.
O que eles querem é decência na vida pública, emprego, sistemas eficientes de proteção social que não sejam corroídos pela corrupção e estão à procura de alguma forma nova de participação na vida em comum que não passe pelo desmoralizado e desgastado caminho do jogo de poder do establishment partidário.
Enfim, sabemos muito bem o que eles não querem, mas não temos a menor idéia de onde e como pretendem chegar.
Como disse um leitor do “El País” num diálogo com a ombudsman do jornal, “essa corrente defende um novo sistema. Uma catarse. Mas morrem de idealismo e quando têm que expor seus argumentos em assembléia, não chegam a um consenso”.
Juan Arias não sabe, mas esses novos indignados no Brasil não vão às praças porque ainda são incipientes habitantes das redes sociais e não encontraram uma forma de expressão fora dos resmungos no mundo virtual.
Os indignados de antes, que pintavam as caras e saíam à rua para protestar contra outras corrupções e outros governos, hoje dividem entre si os frutos do poder.
Chegaram lá e quem chega lá não se indigna mais.
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br