A oposição está em crise. É cada vez mais difícil para o PSDB fingir que não está passando por uma guerra fratricida pelo controle partidário, de olho nas eleições presidenciais: na última semana, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador mineiro Aécio Neves, os dois principais nomes tucanos para 2014, articularam abaixo-assinado entre os deputados federais do PSDB para que Sérgio Guerra permaneça à frente da legenda neste ano. A ação coloca em xeque José Serra, derrotado nas eleições de 2010 e que pretende manter-se vivo na disputa pela liderança da oposição –para seguir sonhando com mais uma candidatura tucana à Presidência.
Foi apenas mais um capítulo, amplamente divulgado pela mídia, de uma disputa que segue em alta temperatura desde o final do ano passado. Uma disputa que tem como aditivos as denúncias contra Paulo César Ribeiro, irmão da primeira-dama do Estado, Lu Alckmin. Ele é investigado pelo Ministério Público Estadual por favorecer um cartel de empresários beneficiados em licitações de merenda escolar, pagar propina e financiar ilegalmente campanhas eleitorais. Há fortes razões para esperar mais denúncias contra outros tucanos.
Alckmin, por seu lado, de certa forma referendou as suspeitas, também publicadas pela imprensa, de casos graves de corrupção na Secretaria Estadual de Transportes na gestão Serra ao escalar Saulo de Castro, ex-chefe de polícia, para a pasta. Ele, com a equipe de investigadores que foi nomeada para acompanhá-lo, recebeu publicamente a incumbência de rever contratos e apurar irregularidades em licitações.
Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está contra Serra, por declarar, para quem quiser ouvir, que acredita que o candidato do PSDB à Presidência em 2014 deverá ser Aécio. Essa será a segunda etapa da disputa interna: Alckmin também deseja testar forças contra o PT novamente em uma campanha presidencial. Para isso, terá de voltar-se contra o tucano mineiro.
A crise na oposição não se restringe apenas ao PSDB: o DEM também dá sinais graves de cisão, que pode culminar com a saída de Gilberto Kassab para o PMDB –se o prefeito de São Paulo não for contemplado na eleição da liderança do DEM na Câmara dos Deputados, essa é uma movimentação que pode acontecer antes do esperado.
Há tempos o peso do PSDB e do PPS vem diminuindo na gestão Kassab, que tem dado prioridade em suas nomeações para PMDB, PV e outros partidos que, embora façam oposição ao PT na Capital, têm posição neutra ou integram a aliança que apoia o Governo Dilma Rousseff, o que denota desconforto com a prática atual da oposição: intransigente, voraz e, por vezes, irresponsável.
Com pouco peso político, o PPS, enquanto isso, segue à deriva até que as legendas maiores às quais tem servido como linha auxiliar estabeleçam novas lideranças.
De qualquer maneira, o resultado dessa transição traumática de lideranças deverá permitir uma mudança na postura da oposição em relação ao governo e à sociedade se os partidos que a compõem quiserem manter-se na disputa política. Na última década, o Brasil mudou para melhor, assim como a consciência do eleitorado. É por isso que a oposição perdeu espaço.
José Dirceu, 64, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT