O governo Lula desperdiçou energia e credibilidade, buscando assento permanente, para o Brasil, no Conselho de Segurança da ONU. Paparicou ditadores, ordenou votos favoráveis a regimes que violaram e violam direitos humanos e cometeu erros crassos, desses que denotam lamentável desconhecimento da História: criou um certo G-4 com Índia, África do Sul e Japão, esquecendo-se de que a China, que tem poder de veto, muito dificilmente consentiria que este último passasse a fazer parte do Conselho, como membro efetivo. Ou é de se desconhecer a rivalidade sino-nipônica, histórica e acirrada, apesar do comércio de US$300 bilhões/ano que praticam?
Exercitando política externa desastrada, perdeu todas as disputas de que participou em organismos multilaterais. Endossou desatinos de Ahmadinejad, do Irã, e se afastou dos Estados Unidos, parceiro tradicional e relevante. Mergulhou fundo em canhestra visão Sul-Sul, não percebendo que o tempo do confronto entre “ricos” e “pobres” deu lugar à era da cooperação pragmática e até da discordância pontual , sempre objetiva, jamais ideológica. Enfiou-nos em máquina do tempo, trazendo de volta os anos 50 e 60, em pregação que, muitas vezes, lembrava o discurso de Gamal Abdel Nasser.
Dilma Rousseff apresenta algumas diferenças, para melhor, em relação ao seu patrono eleitoral. Criticou o Irã pela prática de condenar mulheres à morte, sem culpa e sob apedrejamento. Passou a manter relação mais sóbria com Hugo Chávez, Fidel Castro, Evo Morales e quejandos. Começou a normalizar a relação com os EUA. Demonstrou sensibilidade ao convidar, para o almoço em torno de Barack Obama, os ex-Presidentes que, à exceção do enciumado Lula, compareceram civilizada e adequadamente.
Logo a seguir, porém, o Brasil se absteve, quando o mundo democrático pedia autorização ao Conselho de Segurança para intervir militarmente na crise líbia e evitar que o ditador Kadafi prosseguisse assassinando o seu povo. Quem viu os filmes “Tiros em Ruanda” e “Hotel Ruanda” sabe a que me refiro. Quem se recorda do genocídio no Sudão, governado por tirano com o qual Lula desfilou em carro aberto, e acompanhou a “limpeza étnica” sérvia, sabe também.
Questionamentos inevitáveis: por que a abstenção, ao lado de países como Índia, Rússia e China, que têm graves contenciosos com vizinhos e colocaram suas barbas de molho, se o Brasil não tem esse tipo de “rabo preso”? Pode um país que pretende tornar-se membro permanente do Conselho, no teste de fogo, eximir-se de decidir?
A comunidade internacional deve estar perguntando: “ querem a vaga e não são capazes de optar? Preferem a coluna do meio, o muro, o limbo?”
Ficamos mal. “Amarelamos”.
Omissos não lideram.
*O autor é Diplomata. Foi líder do governo Fernando Henrique, Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República e líder do PSDB no Senado.