A queda de 0.2% no PIB de 2009, em relação a 2008, é má notícia. O País ficou mais pobre. Per capita, o reflexo é de 1.2%. Pior resultado desde 1992.
A compensação é que, em 2010, cresceremos acima de 5%, dos quais, pelo efeito carry over, 2.7% serão automaticamente transplantados de um exercício para o outro. Por duas razões: frágil base de comparação e bons resultados nos dois últimos trimestres de 2009.
Mais grave que o PIB negativo e menos auspicioso que o crescimento deste ano é a incapacidade de sustentar o crescimento a taxas significativas, por períodos longos, com inflação baixa. Se o Brasil crescer 5.5% em 2010 e a isso somarmos os 0.2% negativos ora divulgados, teremos a média de apenas 2.85% nos dois últimos anos do período Lula.
Precisaríamos crescer 5,5% por 10 anos seguidos, com taxas inflacionárias decrescentes, para ascender de patamar. O stop and go nos imobiliza.
De 2003 a 2009, crescemos cerca de 25% contra aumento de 75% nos gastos correntes. Eis aí fator de pressão sobre as taxas de juros e de limitação dos investimentos, num país que enfrenta sérios gargalos infraestruturais: portos, aeroportos, ferrovias e rodovias insuficientes.
A taxa de investimento caiu de 18.7 para 16.7% como proporção do PIB, em função do recuo da taxa de poupança de 18 para 14.6%. Teremos de investir, desde já, pelo menos 20% do PIB, num projeto que leve, em prazo curto, a 25%. Sem isso, continuaremos crescendo bem por um ano ou dois e mal por tempo equivalente, em círculo vicioso.
Medidas de estímulo ao consumo resolvem no curto termo e se esgotam a seguir. Crescimento sustentado só com mais investimento público na infraestrutura para atrair capitais privados geradores de empregos e impostos.
O déficit em conta corrente superará US$ 60 bilhões, em 2011. Eventual descontrole tornaria o País mais vulnerável a crises internacionais. A Grécia é exemplo do que exponho: a irresponsabilidade fiscal era financiada pelo quadro externo benigno pré-crise. Sua economia entrou em parafuso e se tornou ingrediente negativo no complexo cenário global.
O Banco Central deverá retomar gradual elevação da Selic, fechando dezembro deste ano em 11.50%. Na crise, o governo não teve ousadia para cortar fortemente os juros. Agora o tempo é outro.
Dever de casa: aumentar o investimento e melhorar sua qualidade; incrementar exportações de maior valor agregado; reduzir custeio; evitar, pelo aumento da poupança, a explosão do déficit em conta corrente; ampliar a competitividade da economia; priorizar a questão educacional e controlar a inflação.
O futuro será erigido por estadistas ou desperdiçado por gestos populistas descabidos no século XXI.
*o autor é Senador do Amazonas