O sapo de arubinha

Por Arthur Virgílio Neto

Li ‘O Sapo de Arubinha, os anos de sonho do futebol brasileiro’, do notável Mário Filho. Histórias deliciosas que descrevem dos tempos do amadorismo às campanhas da Seleção brasileira até 1958.

Lembra o ‘divino’ Domingos da Guia; Leônidas da Silva, criador da ‘bicicleta’, melhor jogador do mundo no seu tempo; Zizinho, ídolo de Pelé; o talentoso ‘dr. Rúbis’, meia do Mengo; Telê, elétrico, ponta do Fluminense; Ademir, que levava a bola do meio do campo às redes adversárias; Nilo, artilheiro que calçava 33; Joel, ponta do Fla, reserva de Garrincha em 58; Julinho, da mesma posição, o melhor depois de Garrincha; Dida, maior goleador da Gávea depois de Zico; Valdo, atacante arisco do Flu; Escurinho, que corria como cavalo puro sangue; Heleno de Freitas, que matou a bola no peito na grande área e foi assim até o gol; Didi, o inventor da ‘folha seca’; Nilton Santos, o maior lateral esquerdo do mundo em todas as épocas; Mauro, capitão do bi de 62; Belini, líder de 58.

Garrincha, simplório, mais até do que simples. Gênio das pernas tortas, verdadeira tortura para quantos marcadores lhe ficassem à frente. Não lhes sabia o nome. Chamava de ‘João’ a vítima de cada jogo, pouco importando a nacionalidade do dito cujo. Mário cita levemente a emergência do rei Pelé, que se consagrou a partir da Copa de 58, ele que já vinha arrasando no Santos e nas disputas entre selecionados do Rio e de São Paulo.

O livro percorre os ‘vilões’, os ‘catimbeiros’, os ‘frangos’ mais memoráveis, a mística do Fla-Flu, as raízes de Vasco e Botafogo. Descreve partidas inesquecíveis, como o ‘Fla-Flu da Lagoa’. E seu título se deve à praga rogada por Arubinha, do Andaraí, após o seu time ser goleado por 12 X 0. Ajoelhou-se no campo e clamou: “se há um Deus no céu, o Vasco tem de passar 12 anos sem ser campeão”. Passou 11. Conta a lenda que Arubinha teria enterrado um sapo no gramado de São Januário.

Mário Filho faz bela sociologia do futebol: o Vasco enfrentou o racismo e foi o primeiro time a escalar negros. Resultado: campeão carioca de 1923. O Flamengo semeou sua popularidade pelo hábito, que persiste, de comemorar suas vitórias nas ruas.

E examina nosso complexo de inferioridade em relação primeiro à Inglaterra, depois à Argentina e, em 54, à seleção húngara de Ferenc Puska.

O desastre de 50, no Maracanã, na final contra o Uruguai, foi consequência de um Brasil covarde, que cedeu aos gritos e safanões de Obdulio Varela. Em 58, as mágoas foram varridas pela brilhante campanha na Suécia.

Recomendo a leitura, pelo estilo e pelo deleite.

* O autor é diplomata