Li ‘O Sapo de Arubinha, os anos de sonho do futebol brasileiro’, do notável Mário Filho. Histórias deliciosas que descrevem dos tempos do amadorismo às campanhas da Seleção brasileira até 1958.
Lembra o ‘divino’ Domingos da Guia; Leônidas da Silva, criador da ‘bicicleta’, melhor jogador do mundo no seu tempo; Zizinho, ídolo de Pelé; o talentoso ‘dr. Rúbis’, meia do Mengo; Telê, elétrico, ponta do Fluminense; Ademir, que levava a bola do meio do campo às redes adversárias; Nilo, artilheiro que calçava 33; Joel, ponta do Fla, reserva de Garrincha em 58; Julinho, da mesma posição, o melhor depois de Garrincha; Dida, maior goleador da Gávea depois de Zico; Valdo, atacante arisco do Flu; Escurinho, que corria como cavalo puro sangue; Heleno de Freitas, que matou a bola no peito na grande área e foi assim até o gol; Didi, o inventor da ‘folha seca’; Nilton Santos, o maior lateral esquerdo do mundo em todas as épocas; Mauro, capitão do bi de 62; Belini, líder de 58.
Garrincha, simplório, mais até do que simples. Gênio das pernas tortas, verdadeira tortura para quantos marcadores lhe ficassem à frente. Não lhes sabia o nome. Chamava de ‘João’ a vítima de cada jogo, pouco importando a nacionalidade do dito cujo. Mário cita levemente a emergência do rei Pelé, que se consagrou a partir da Copa de 58, ele que já vinha arrasando no Santos e nas disputas entre selecionados do Rio e de São Paulo.
O livro percorre os ‘vilões’, os ‘catimbeiros’, os ‘frangos’ mais memoráveis, a mística do Fla-Flu, as raízes de Vasco e Botafogo. Descreve partidas inesquecíveis, como o ‘Fla-Flu da Lagoa’. E seu título se deve à praga rogada por Arubinha, do Andaraí, após o seu time ser goleado por 12 X 0. Ajoelhou-se no campo e clamou: “se há um Deus no céu, o Vasco tem de passar 12 anos sem ser campeão”. Passou 11. Conta a lenda que Arubinha teria enterrado um sapo no gramado de São Januário.
Mário Filho faz bela sociologia do futebol: o Vasco enfrentou o racismo e foi o primeiro time a escalar negros. Resultado: campeão carioca de 1923. O Flamengo semeou sua popularidade pelo hábito, que persiste, de comemorar suas vitórias nas ruas.
E examina nosso complexo de inferioridade em relação primeiro à Inglaterra, depois à Argentina e, em 54, à seleção húngara de Ferenc Puska.
O desastre de 50, no Maracanã, na final contra o Uruguai, foi consequência de um Brasil covarde, que cedeu aos gritos e safanões de Obdulio Varela. Em 58, as mágoas foram varridas pela brilhante campanha na Suécia.
Recomendo a leitura, pelo estilo e pelo deleite.
* O autor é diplomata