Pela ocasião do centenário do grande poeta e diplomata Vinícius de Moraes – comemorado neste sábado, 19 de outubro -, ‘Vou te Contar’ uma historinha que tomei conhecimento há poucos dias, mas que desde então não sai da minha cabeça.
Em uma noite de setembro de 1974, quando Vinícius estava em Manaus, Seu Arthur, pai da minha colega de trabalho Thais Alvares estava passando pela frente do Bar Caldeira, no Centro. Pensando em ‘Água de Beber’, parou para tomar uma. Olhou para o lado. Encontrou Vinícus. Tomou um susto. Olhou de novo. Nada mais natural que tenha decidido ficar ali. Não era ‘Insensatez’.
Tarde da madrugada tentou ir embora por duas vezes, mas Vinícius não deixou. Duas horas depois disse que precisava mesmo interromper ‘O canto de Oxum’, pois tinha deixado a esposa em casa, que àquela altura do campeonato já estava possessa de raiva pelo atraso do boêmio marido. Solícito e preocupado com o ‘recente-amigo’, o ‘Poetinha’ sacou um guardanapo e escreveu um poema exclusivo em nome de Dona Graça. ‘Escravo da alegria’, Seu Arthur foi embora com o troféu em mãos.
Chegando em casa a desculpa era perfeita, quase um ‘Testamento’: “Meu amor, desculpa a demora, mas estava com meu ídolo Vinícius de Moraes tomando e conversando a noite inteira em um bar lá do Centro. Olha, ele até fez um poema só para você”, disse, mostrando, o guardanapo. Furiosa,Dona Graça não contou conversa. Com os olhos flamejantes e radioativos, pegou o guardanapo e o triturou sem ao menos ver o que tinha escrito. Mandou o poema para ‘Tonga da Mironga do Kabuletê’. Seu Arthur foi dormir com tons de ‘Tristeza’, mas sorrindo ao mesmo tempo. Tinha vivido uma das noites mais felizes de sua vida. Era a ‘Tarde em Itapoã’ dele.
Hoje, 100 anos depois do nascimento de Vinícius, fico pensando no poema perdido e que nunca iremos conhecer. Apenas seu Arthur e Vinícius Leram. Daria uma bela de uma reportagem: O poema (baré) perdido de Vinícius de Moraes. A nossa ‘Garota de Ipanema’ em um guardanapo ficou perdida no tempo.
Saravá!
— em Bar Caldeira “Oficial”.