O pirarucu e a inovação fragmentada – Parte I

Por Alfredo MR Lopes (*):
O INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, deverá receber R$ 300 mil em 2014 para promover o Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica para a construção do primeiro Parque Tecnológico no Amazonas. Com esse recurso e iniciativa o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação pretende “… unir a produção científica e econômica de empresas e instituições do Amazonas nas áreas de cosméticos, medicamentos e produtos biotecnológicos, que devem ser contemplados no novo parque”, diz o portal da instituição. Também para este este ano, o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) liberou R$ 653 mil para o Projeto Pirarucu da Amazônia, desenvolvido nos sete estados da Região Norte, envolvendo a Embrapa. A dinheirama é para financiar novos estudos sobre o Pirarucu nas Unidades de Observação instaladas nos sete estados da região. Se a distribuição for equânime, dará pouco mais de R$ 90 mil para cada estado, por enquanto, onde as áreas de Genética, Sanidade, Nutrição, Engorda, Reprodução e Transferência de Tecnologia disputarão prioridade.

Em ano de eleição, em que o Amazonas – da Arena Amazônia e outras prodigalidades – desponta como o estado com orçamentos mais robustos para a contenda política, que promete ser acirrada, a distribuição desse montante de recursos para C&T dá uma ideia aproximada do lugar que a pesquisa e desenvolvimento ocupa na lista das prioridades vigentes. O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do país, que pode atingir até três metros de comprimento e pesar até 250 quilos, mas a produção nacional de Pirarucu e Tambaqui, juntos,  em aquicultura, chegou a apenas 112,2 mil  toneladas, em 2011. Por enquanto, os pesquisadores estudam a caracterização e a rastreabilidade genética da cadeia produtiva, a sexagem dos peixes, a formação de casais, o comportamento reprodutivo, o número de fases de cultivo, o processo de fertilização nos viveiros, técnicas de transporte de animais vivos, o uso de anestésico em situações necessárias e os diferentes métodos de abate para a garantia de qualidade da carne processada. Num contexto de pesquisa e segurança alimentar, a espécie, ao lado do tambaqui e da matrinchã, reúne a certeza de oportunidades e prosperidade, quando o assunto, algum dia,  receber a efetiva prioridade que se impõe.

Para um estado que tem a sexta economia do país e importa quase tudo que consome na alimentação diária, é estranho que essa matriz econômica seja tratada com tanta improvisação. É ainda estranho e inaceitável o fato da Embrapa já dominar a tecnologia do cultivo extensivo de seringueira, com produtividade superior à coleta extrativista, e as fábricas de pneus em Manaus importarem mais da metade de que precisam do Mato Grosso, Bahia e São Paulo. Há uma desarticulação entre as instituições e uma interdição velada para que assim se mantenham as relações. O INPA e a Suframa estão ensaiando há dois anos romper o paralelismo funcional a serviço do cidadão e são castigados pela rotina restritiva e pela burocracia irracional. Fica difícil, as sim, romper a cultura do inventário da biodiversidade amazônica e devolver à sociedade a equação entre  pesquisa e ao desenvolvimento. Por isso é tão lerdo o propósito de avançar em ações como o cultivo de frutas e legumes convencionais e não convencionais da Amazônia Central, refém de uma nutracêutica cultural focada no binômio peixe com farinha. Essa é a liturgia letárgica da pesquisa focada na inovação e diversificação da economia do Amazonas.

A Suframa está promovendo a revisão de seus recursos de pesquisa e desenvolvimento com as verbas recolhidas no âmbito da Lei de Informática, as tais verbas de P&D, mas tem um volume substantivo, também, de recursos oriundos das taxas de administração, que as empresas  outrora  recolhiam para gerar atividades econômicas nos municípios ribeirinhos da Amazônia Ocidental. No total, essas verbas ultrapassariam os R$ 2 bilhões de recursos que “…dariam para qualquer país sério fazer uma revolução”. Esse conjunto intrigante de informações e obviedades sugere a ausência de uma visão de totalidade, que integre – além da inteligência e bom senso – comprovado espírito público. Voltaremos ao assunto…

(*) Alfredo é filósofo e ensaísta.