O fracasso! Numa palavra só! E leiamos Marcos, 3, 24-25!

O fracasso! Numa palavra só! E leiamos Marcos, 3, 24-25!

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Uma menina de dez anos de idade é estuprada pelo tio. Ele a estuprava desde os seis anos. Engravida. Só isso já ultrapassa qualquer limite daquilo que se pode considerar uma tragédia.

Eis que… Eis que o Brasil consegue inovar. Um país tropical, abençoado por Deus, sempre disposto a cavar mais fundo no buraco epistêmico que cavamos já de há muito.

Não satisfeito com uma tragédia completa, um bando deu um jeito de ultrapassar o zero absoluto. Uma terrorista (terrorista, não “militante”) divulgou que a menina estava prestes a fazer aborto. E deu o endereço.

A influencer (sic) ou coach (sic), Sara Winter (sic), fazendo o que mais sabe, terror digital, convocou seus correligionários a chamar o médico de assassino e fazer fiasco na porta do hospital. Um crime bárbaro é respondido por criminosos que barbarizam a barbárie.

Eis a charge que melhor representa isso tudo — esse moralismo tupiniquim:

Como dizer qualquer coisa diante disso? Sinto o que sentia Stefan George: Kein ding sei wo das wort gebricht. Que nada seja onde fracassa a palavra. O que dizer além disso?

A cena da súcia, da guilda, do valhacouto na frente do hospital é o retrato de nosso fracasso. E o fracasso é nosso, sim. Como deixamos isso acontecer? Quando foi que se tornou possível que essa gente fizesse isso? Cadê o constrangimento?

Dizem-se cristãos. Não é isso que dizem os Dez Mandamentos, que ensinam o amor ao próximo. Essa é a definição de amor ao próximo dessa turma? Adianta alguma coisa rezar depois de fazer uma barbaridade dessas?

O que Jesus Cristo diria sobre isso? Como escrevi outro dia (ver aqui), ouvi dizer que Deus resolveu lançar um dilúvio 2.0, salvando apenas os ateus. Sabem por quê? Porque os ateus, ao que se sabe, não matam, esfolam, destroem ou fazem discursos de ódio em Seu nome. Podem fazer tudo isso… porém, não o fazem invocando o nome de Deus. Por isso, a chuva já começou. Leiam todo o texto — anexado acima — sobre o dilúvio, para entenderem.

Essa gente não sabe o que faz. Ou sabe? Talvez eu não seja um cristão tão bom assim, porque acho que sabem bem. Sabem bem o que fazem. E sabem que sabem. E são fetichistas ideológicos da barbárie interior: sabem bem… mas fazem igual. Sabem bem, mas mesmo assim.

Uma menina de dez anos vira desculpa para extremistas fazerem fiasco na porta de um hospital, barbarizando a barbárie e violentando outra vez e outra vez e outra vez a menina que foi violentada.

Eles sabem bem. E eu não sei o que dizer. Palavra, que falta me faz.

Eu não perdoo. Eles sabem o que fazem. E esse país é um fracasso. Fechemos as portas e devolvamos a chave. Que vergonha. E que bom que eu ainda sinto vergonha: pelo menos isso.

Winter is coming. Pior: Winter is here! Já chegou. É mesmo um longo e tenebroso inverno.

Post scriptum 1: Proponho que o dia 17 de agosto seja declarado o dia nacional contra a intolerância! Eis minha sugestão!

Post scriptum 2: Falei na CNN: mais uma vitória de Dallagnol desidratando o CNMP e o Ministério Público estará como o General Pirro. Ganhou, mas perdeu. E perderá. Às portas de Roma, cumprimentado, Pirro disse, olhando suas tropas escangalhadas: mais uma vitória como essa e estarei lascado!

O CNMP deve ser fortalecido. Foi construído política e institucionalmente para manter uma espécie de paridade entre PJ e MP. Mas tem gente do Ministério Público que não percebe isso e quer acabar com o CNMP.

Em nome de idiossincrasias pessoais (já houve 41 adiamentos — sim, 41 adiamentos) de processos de Martinazzo Dallagnol, o CNMP vai sendo desidratado. Se um “mortal” tivesse uma causa com mais de 40 adiamentos, todos diriam: procrastinação. Fariam passeatas.

Sou insuspeito. Não nego o direito de defesa ao Deltan. Lutamos muito para isso. Basta ver nossa batalha pela presunção da inocência. Deltan tem todo o direito à prescrição, coisa que ele, meses antes, pregava nas redes como sendo uma excrecência e razão para impunidade. Claro: prescrição só é boa quando é a nosso favor, pois não?

Ah: em um novo processo, se até o dia 14 de setembro não houver julgamento, haverá nova prescrição. Ups. Essa prescrição…

Como ex-integrante do MP, lanço o lema: salvemos o CNMP!

E que o CNMP saiba que deve salvar-se a si. Como cristão, recomendo a leitura de Marcos, 3, versos 24 e 25. Para quem tiver preguiça, aí vai:

E, se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode subsistir;
E, se uma casa se dividir contra si mesma, tal casa não pode subsistir.